Desmatamento da Amazônia em 2022 foi de 11 mil km²

A taxa anual de desmatamento da Amazônia estimada em 2022 foi de 11.568 km², de acordo com os dados oficiais do PRODES (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A taxa de desmatamento, divulgada na última quarta-feira (30) se refere ao período entre agosto de 2021 e julho de 2022.

Os estados que lideraram a destruição no período foram o Pará, Amazonas e Mato Grosso, com 4.141 km2, 2.607 km2 e 1.906 km2 de florestas desmatadas, respectivamente. O maior aumento de desmatamento estimado foi no estado do Amazonas com 13,1% a mais em relação a 2021.

O único a ter aumento no corte raso neste ano, o estado do Amazonas vive a expectativa de asfaltamento da BR-319 (Manaus-Porto Velho), rodovia que corta o maior bloco de florestas intactas da Amazônia. Em julho, o governo Bolsonaro concedeu licença prévia para a obra, atropelando pareceres de técnicos do próprio Ibama.

A organização Observatório do Clima avalia que a tendência atual no Amazonas, caso nada seja feito, é que “se repita no eixo da BR-319 a tragédia ocorrida no entorno da BR-163 (Cuiabá-Santarém), no Pará, que se transformou no epicentro do desmatamento no começo do século, após o anúncio de sua pavimentação”.

Amazônia 2022

O desmatamento na Amazônia se manteve nos mais altos patamares desde 2009, apesar de queda em relação ao registrado em 2021 (13.038 km2), consolidando a tendência de aumento descontrolado da devastação observada nos últimos quatro anos, durante o governo Bolsonaro. 2009 foi o ano em que a meta de redução do desmatamento para 2020 foi definida em 3.925 km2 para o ano 2020, no Plano Nacional sobre Mudança do Clima do Brasil. A taxa estimada esse ano é quase 3 vezes maior.

A área devastada em 2022 na Amazônia é 48,2% mais alta que a média observada nos últimos 10 anos no bioma. Nos quatro anos de governo Bolsonaro, 45.586 km2 de florestas foram destruídas – uma área maior que a Holanda ou perto de oito vezes a extensão do Distrito Federal.

“Bolsonaro foi uma máquina de destruir florestas. Pegou o país com uma taxa de 7.500 km2 de desmatamento na Amazônia e o está entregando com 11.500 km2. A única boa notícia do governo atual é o seu fim”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Para Raul do Valle, especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil, a explosão do desmatamento durante a última gestão federal é resultado do abandono do sistema de proteção ambiental.

“Nos últimos anos, o desmatamento associado a atividades ilegais aumentou exponencialmente por conta da redução de fiscalização e o desmonte dos órgãos ambientais. Os números consolidados pelo sistema PRODES sobre o desmatamento da Amazônia confirmam que é urgente a retomada dos mecanismos de comando e controle”, afirmou Valle.

“O novo governo precisa emitir um sinal claro de que nenhum desmatamento será tolerado e reconstruir todo o arcabouço de proteção que foi destruído. Esse caminho é vital para que o Brasil garanta sua segurança climática e retome seu papel de liderança nas questões ambientais, no cenário internacional”, acrescentou Valle.

Sem essa recuperação da capacidade de fiscalização e de ação dos órgãos ambientais, a Amazônia se aproxima perigosamente de um ponto de não retorno, a partir do qual ela perderá a capacidade de prover os serviços ecossistêmicos dos quais todos nós dependemos, segundo Mariana Napolitano, Gerente de Ciências do WWF-Brasil.

De acordo com ela, perder a Amazônia afetaria os meios de subsistência de 47 milhões de pessoas e intensificaria a emergência climática global. “Além disso, colocaria em risco a segurança alimentar em toda a América do Sul e afetaria a agricultura em outros continentes. É essencial e viável reduzir significativamente as taxas de desmatamento até sua eliminação completa em 2030. Trata-se de um imperativo humanitário diante da dupla crise do clima e da perda em massa da biodiversidade global que a humanidade está enfrentando”, disse ela.

Setor agropecuário

A redução drástica do desmatamento e sua eliminação completa até 2025 é uma das condições essenciais para que seja possível evitar o aquecimento do planeta acima de 1,5 graus. Além da retomada das políticas públicas, recursos e condições para fiscalização e controle do crime ambiental, a redução do desmatamento e emissões não será alcançada sem a participação do setor agropecuário. O plano de ação para reduzir o desmatamento associado à produção agrícola, proposto durante a COP 27 esse mês pelas maiores traders de commodities agrícolas, é insuficiente para atingir essa meta.

A cadeia de produção de alimentos contribui com pelo menos um terço do total de emissões líquidas de GEE que estão alterando o clima do planeta. Por isso, para que as metas do Acordo de Paris sejam cumpridas, as emissões do sistema alimentar precisam diminuir em mais de 80% até 2050 – o que só será possível com uma efetiva implementação de políticas de desmatamento zero.

Desmatamento no Cerrado

No caso do Cerrado, para o período mais recente (agosto de 2021 a julho de 2022), o DETER (Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real), do INPE, apontou um aumento de 12,1% nos alertas de desmatamento quando comparado ao mesmo período do ano retrasado. Considerando os alertas desde o início do ano e até dia 17 de novembro, data da última atualização de dados, esse aumento foi de 23,2% em relação ao mesmo período em 2021.

O DETER é um sistema de alertas em tempo real voltado para dar suporte à fiscalização e seus dados costumam ser corroborados pelo PRODES, que é o sistema responsável por medir as taxas oficiais de desmatamento.

Portanto, é esperado também um aumento no incremento de desmatamento medido pelo PRODES no Cerrado no mesmo período, mas esses dados ainda não foram divulgados. “Além dos dados do PRODES sobre a Amazônia, é essencial termos o quanto antes a publicação dos dados do PRODES Cerrado que teve um aumento de 17,5% de desmatamento nos últimos três anos, passando de 7.260 km2 em 2018 para 8.531 km2 em 2021”, disse Mariana Napolitano.

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