Iniciativa lança 10 pontos para uma bioeconomia da floresta em pé
“Onde existe muita floresta também existe muita pobreza”, afirmou o ministro do Meio Ambiente do Brasil em discurso na COP26.
A descabida afirmação não condiz com a realidade: a “economia da floresta” é secular e, além dos benefícios para o meio ambiente e dos ganhos econômicos, traz qualidade de vida a seus habitantes. Exemplo disso é o documento “10 pontos para uma bioeconomia da Floresta em pé”, lançado na última quinta-feira (11), também na COP, pelo Fórum Amazônia Sustentável. Trata-se de uma iniciativa multissetorial composta por cerca de 100 entidades da sociedade civil, populações tradicionais e empresas, e que tem como missão mobilizar lideranças e organizações para promover o diálogo e a cooperação visando uma Amazônia justa e sustentável.
O documento, resultado de oito encontros multissetoriais realizados ao longo de 2020 e 2021 com povos e comunidades amazônicas, indígenas e tradicionais, mapeia os principais temas que merecem prioridade de ação na Amazônia. O objetivo comum é a recuperação da economia a partir de modelo circular, inclusivo e de baixo carbono, que mantenha a floresta em pé, proteja as comunidades locais e elimine efetivamente o desmatamento na região.
Os 10 pontos considerados prioritários para a região são:
1. Ações de combate ao desmatamento; 2. Regularização fundiária; 3. Proteção e fiscalização ambiental; 4. Cadeias de valor justas e sustentáveis; 5. Novas economias da floresta; 6. Inclusão social e econômica de comunidades locais; 7. Infraestrutura e energia; 8. Instrumentos e incentivos financeiros; 9. Impactos ambientais empresariais; 10. Abordagem e governança multissetorial.
“O Fórum Amazônia Sustentável é uma iniciativa valiosa, pois dá relevância às vozes regionais, apontando quais são as verdadeiras prioridades capazes de conciliar a preservação da biodiversidade com o bem-estar das populações locais. Cenários complexos como o da Amazônia exigem ações multissetoriais e os pontos de convergência elaborados neste documento são uma forma de indicar consensos para avançarmos com propostas concretas para o desenvolvimento sustentável da região”, afirma Caio Magri, diretor-presidente do Instituto Ethos que integra o Fórum desde sua fundação, em 2007.
Além do Ethos, outras oito organizações compõem o Comitê Organizador do Fórum: Instituto Socioambiental, Projeto Saúde e Alegria, Natura, Fundação Konrad Adenauer, Conselho Nacional dos Seringueiros / Populações Extrativistas, Grupo de Trabalho Amazônico, Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro e Reos Partners.
O lançamento do documento acontece durante o evento “Organização em rede para a ação climática” no espaço presencial Brazil Climate Action Hub. Confira a transmissão neste link. Participaram da mesa, Instituto Ethos (Marina Ferro), Grupo de Trabalho Amazônico (Joci Aguiar), Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (José Bertotti), Instituto Clima e Sociedade – iCS (Marina Marçal), The Nature Conservancy – TNC (Karen Oliveira) e Centro Brasil no Clima – CBC (Guilherme Syrkis).
Christel Scholten, Diretora Executiva da Reos Partners Brasil, um dos parceiros signatários do documento, destaca convergências com outras coalizões multissetoriais que se somam à iniciativa do Fórum Amazônia Sustentável, como a Coalizão Brasil, Clima Florestas e Agricultura, Cebds, Concertação pela Amazônia e Instituto Talanoa, “além dos posicionamentos de povos e comunidades indígenas, tradicionais e Amazônidas para fortalecer a atuação dos vários setores em prol de uma Amazônia sustentável.”
Para Karen Oliveira, gerente para Políticas Públicas e Relações Governamentais da TNC Brasil, que participa do evento de lançamento, o potencial da bioeconomia é gigante. A TNC lançou em outubro, em parceria com o BID e Natura, um estudo sobre a sociobioeconomia no Pará, e o principal resultado mostrou que se envolvidos todos os elos da cadeia, da produção à comercialização, com uma remuneração equânime, o potencial econômico é enorme.
“No caso do Pará, por exemplo, em 20 anos pode-se chegar a um PIB da sociobioeconomia de R$ 170 bilhões. As soluções baseadas na natureza vão além de conservar a floresta em pé, elas fomentam o desenvolvimento sustentável, geram renda e fortalecem as comunidades locais e povos tradicionais, valorizando a sua cultura e modo de vida explica a executiva.”
Karen Oliveira, TNC Brasil
Após a COP26, o documento será entregue em mãos no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.
Para download do documento, acesse:10 pontos para uma bioeconomia da floresta em pé