Europa vai plantar 3 bilhões de árvores
A União Europeia quer liderar o movimento para deter a crise global da biodiversidade.
O plano é ambicioso: há metas para restaurar o que já foi degradado e proteger com mais firmeza o que ainda resta. Como parte das ações, promete plantar nada menos que três bilhões de árvores até 2030.
O mega plantio integra os objetivos de restauração dos ecossistemas degradados, como florestas, solos e zonas úmidas. As medidas também incluem aumentar a agricultura orgânica, parar e reverter o declínio dos polinizadores, reduzir o uso e o risco de pesticidas em 50% e ainda recuperar ao menos 25 mil quilômetros de rios.
No quesito preventivo, as metas estabelecem a proteção de, ao menos, 30% das terras e oceanos da Europa. Destes, um terço estarão sob o guarda-chuva da “proteção rigorosa”. A estratégia prevê proteger mais severamente as florestas primárias e antigas do continente, assim como turfeiras e pântanos.
Para tanto, vai destinar 20 bilhões de euros, por ano, para a biodiversidade. O dinheiro virá de várias fontes, incluindo financiamento privado.
Plantar árvores
O plantio de árvores ainda compõe parte das medidas para deter o aquecimento global. Um estudo, publicado em 2019 na Science, ganhou repercussão ao afirmar que plantar 1,2 trilhão de árvores seria solução para combater a crise climática. Desde então, o esforço em prol da arborização fica cada vez mais evidente com os mega plantios que o CicloVivo sempre destaca.
Na justificativa do programa, é ressaltado que a biodiversidade é essencial para a vida. “A biodiversidade e os ecossistemas nos fornecem alimentos, saúde e medicamentos, materiais, recreação e bem-estar”, diz o documento. “Tornar a natureza saudável novamente é a chave para o nosso bem-estar físico e mental e é um aliado na luta contra as mudanças climáticas e os surtos de doenças. Está no cerne da nossa estratégia de crescimento, o Acordo Verde Europeu, e faz parte de uma recuperação europeia que devolve mais ao planeta do que leva embora”, afirma Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.
Natureza no centro da crise
A União Europeia vai adotar a restauração da natureza como um elemento central do plano de recuperação da União Europeia contra a pandemia de coronavírus. Há três setores econômicos principais: construção, agricultura, comida e bebida. Todos esses setores são altamente dependentes da natureza e geram mais de sete trilhões de euros, de acordo com a Comissão Europeia.
O impacto na economia também fica claro quando o programa afirma que metade do Produto Interno Bruto (PIB) global, cerca de 40 trilhões de euros, depende da natureza.
O programa aponta alguns exemplos. Conservar os estoques marinhos poderia aumentar os lucros anuais da indústria de frutos do mar em mais de 49 bilhões de euros, enquanto que proteger as zonas úmidas costeiras poderia gerar economia de 50 bilhões de euros, anualmente, ao setor de seguros ao reduzir as perdas por danos causados pelas inundações.
Isso é importante porque rebate, mais uma vez, o mito de que conservação ambiental seja empecilho para o desenvolvimento dos países. Pelo contrário, investir no desenvolvimento sustentável é benéfico também para os cofres públicos.
Apesar de louvável, a estratégia foi recebida com desconfiança por cientistas e grupos ambientalistas. Cansados de ver metas não saírem do papel, alguns argumentaram, em entrevista ao The Guardian, que faltam ferramentas para implementar as metas propostas.
“É bom ver a ambição de ampliar áreas protegidas, aumentar a cobertura de árvores, reduzir o uso de pesticidas e trazer espécies em declínio. Mas há um enorme senso de déjà vu lendo essa estratégia mais recente porque muitas das mesmas ambições foram estabelecidas e não cumpridas em planos anteriores”, afirmou Paul de Zylva, ativista da Friends of the Earth – uma rede internacional de organizações ambientais. “A Europa não pode permitir mais uma década de falha na proteção e restauração do mundo natural”.