Jardins de Mel: colmeias de abelhas sem ferrão são instaladas em áreas públicas de Curitiba (PR)
O projeto busca conscientizar a comunidade quanto à importância das abelhas para o ecossistema.
Responsáveis pela conservação dos ecossistemas, as abelhas são fundamentais para o meio ambiente. Só na Mata Atlântica, um dos seis biomas brasileiros, a polinização das abelhas nativas é responsável pela perpetuação de 90% das espécies vegetais.
No entanto, a falta de conhecimento quanto à importância desses insetos é uma grande ameaça, uma vez que muitos indivíduos são eliminados.
Alarmado com esse cenário, o agroecólogo Felipe Thiago de Jesus criou o projeto “Jardins de Mel”, com o objetivo de promover a reintrodução e conservação dos polinizadores nativos, bem como toda fauna e flora que dependem dos serviços de polinização para produção de frutos e sementes.
Inspirado no princípio de cooperação das abelhas e na necessidade de resgatar o conhecimento, despertando nas pessoas a sensibilidade e o sentimento de restauração, Felipe passou a instalar colmeias de abelhas sem ferrão em locais públicos.
“Assim, promovemos a consciência ecológica sobre a importância e os benefícios dos serviços ecossistêmicos”, explica o gestor, que também organiza treinamentos para que a comunidade saiba cuidar dos jardins de mel. Qualquer um pode ir ao parque, conhecer as abelhas nativas e se tornar um guardião. Com isso, o planeta inteiro ganha — Felipe Thiago de Jesus, agroecólogo
Jardins de Mel
O acesso às abelhas sem ferrão é prioridade no projeto de Felipe, por isso, parques, praças, escolas e hortas comunitárias de Curitiba recebem colmeias de cinco espécies diferentes.
“As colmeias ficam próximas de árvores e flores e cada uma tem o telhado pintado de acordo com a espécie que abriga. Também há um QRcode, código que leva a pessoa até um site com mais informações sobre o projeto”, conta o idealizador.
Além do livre acesso, os locais públicos devem ter suporte floral para cada espécie, garantir segurança e bem-estar aos jardins e às abelhas. Promover serviços de educação ambiental também é fundamental.
Lançado no primeiro dia da Primavera de 2017, o projeto já conta com 15 jardins de mel instalados pela capital paranaense. Lá, encontram-se as espécies manduri, mirim, mandaçaia, jataí e guaraipo, cinco das mais de 200 abelhas sem ferrão nativas do Brasil.
“As abelhas nativas sem ferrão são as verdadeiras abelhas brasileiras, que habitam nosso continente há milhões de anos. A abelha com ferrão foi introduzida, modificada geneticamente e se espalhou por todo continente americano”, explica Felipe.
Treinamento
Além de conscientizar a população sobre a importância das espécies para o planeta, o projeto conta com treinamentos para que a comunidade saiba manter os jardins saudáveis.
De acordo com Felipe Jesus, as espécies são independentes e não necessitam de cuidados diários, o que facilita a manutenção das colmeias. “A melhor maneira de cuidar é plantando árvores próximas aos jardins de mel. Aprender as técnicas de meliponicultura – criação das abelhas sem ferrão -, também é fundamental para conservar as espécies e ajudar a multiplicar a biodiversidade”, explica o gestor.
Para isso, são oferecidos cursos mensais gratuitos, de quatro e de oito horas, para formar “Guardiões das Abelhas sem Ferrão”. Mais de sete mil pessoas, entre professores, gestores públicos, estudantes e comunidade em geral já foram treinadas.
“Essa iniciativa é transformadora e facilmente replicada. Quando todas as cidades do Brasil tiverem jardins de mel, será um sinal de que abrimos os olhos para nossos tesouros” — Felipe Thiago de Jesus, agroecólogo
“Esse é o foco do projeto, pretendemos atingir 100% da população com as informações e o devido respeito pelo tema”, ressalta Felipe, que enxerga nas abelhas o resultado positivo do trabalho desenvolvido.
“O retorno nós devemos a elas, pelos milhares de anos que carregam nas asas o peso de alimentar o mundo e de perpetuar espécies vegetais, além de produzir o mel”, completa.
Mel “poderoso”
Reserva de alimento para o inverno, o mel é importante para as abelhas, por isso, nem sempre deve ser retirado. No entanto, na época certa para algumas técnicas de manejo, o mel produzido nos jardins de Curitiba é oferecido aos integrantes do projeto.
“Costumamos brincar que esse mel é super poderoso porque as abelhas visitam aproximadamente seis milhões de flores para produzir um quilo de mel”, conta Felipe. “Essas gotinhas possuem a força de milhares de árvores, portanto, quem consome esse mel se torna para sempre um Guardião da Natureza” — Felipe Thiago de Jesus, agroecólogo
Abelhas no quintal
Para quem deseja manter um “jardim de mel” perto de casa, a dica é plantar flores e árvores nativas ou melíferas – que atraem abelhas -, e comprar uma colmeia de um meliponicultor. “Fazer um curso de manejo e produzir iscas também são passos importantes”, explica Felipe, que faz um alerta quanto às espécies do jardim: “Espécies vegetais como a árvore de neem ou a spatodea são altamente tóxicas para as abelhas e para os pássaros”, adverte.
Encontradas na natureza, as abelhas sem ferrão também podem habitar troncos de árvores em áreas urbanas, por isso, a dica é usar iscas para atrais as espécies. “Nas redes sociais já existem grupos para trocar informações. Vamos polinizar essa ideia”, convida o agroecólogo, que espera disseminar o projeto Jardins de Mel Brasil afora. “Torcemos para que o projeto se replique, para que possamos polinizar todo o País”.
Inspiração
Sensibilizado com as aulas de meliponicultura – criação das abelhas sem ferrão -, durante o curso de agroecologia, Felipe Thiago de Jesus decidiu trabalhar em prol das espécies.
“Ficava angustiado por não ver jovens, filhos e netos de meliponicutores, interessados na proteção das abelhas”, lembra o fundador do projeto Jardins de Mel, que conta hoje com o apoio da prefeitura de Curitiba.
“Convido todos de Curitiba a fazer o curso dos Guardiões das Abelhas sem ferrão. Basta entrar em contato com a Prefeitura ou o Museu de História Natural Capão da Imbuia”, completa.