A rede de 18 mil km que vai interligar reservas ambientais no Brasil

Iniciativa lançada em outubro pelo governo federal quer promover o ecoturismo e conscientizar sobre a importância das áreas de preservação.

O turismo no mundo avança em torno de 7,5% ao ano, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), em dados de julho de 2018. O que mais cresce, porém, é o ecoturismo, com um aumento de 20% ao ano.

O Brasil, apesar de ter um grande potencial para a prática, ainda não fatura tanto com ela quanto outros países. O ministro do Turismo, Vinicius Lummertz, afirmou, em coletiva de imprensa em outubro de 2018 que, “enquanto os EUA recebem 307 milhões de visitantes e faturam US$ 17 bilhões com os parques florestais ao ano, o Brasil recebe pouco mais de 10 milhões de visitantes e fatura R$ 2 bilhões. Precisamos agir e virar essa página”.

A coletiva foi feita no dia 19, quando o ministro do Turismo, junto com o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, e o presidente do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), Paulo Henrique Carneiro, assinaram o projeto Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade.

O programa tem como objetivo conectar os diferentes biomas do país, interligando paisagens e ecossistemas brasileiros em quatro circuitos. A meta, segundo as instituições organizadoras, é de estruturar 18 mil quilômetros de trilhas caminháveis em 20 anos, com estimativa de movimentar 2 milhões de pessoas por ano.

Rede Trilhas

A primeira etapa a ser cumprida é estruturar os caminhos e marcar a sinalização nas rotas, que poderão ser percorridas a pé ou de bicicleta. Pedro Menezes, coordenador de Uso Público e Negócios do ICMBio, disse em entrevista ao Nexo que o objetivo é de que as trilhas possibilitem ligar as reservas de conservação ambiental do Brasil e para tanto vão haver trilhas em todas as unidades da federação.

O projeto “Rede Trilhas” vai incentivar e proteger rotas pedestres de interesse natural, histórico e cultural, além de sensibilizar a sociedade para a importância do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc).

Vai também desconcentrar o turismo, porque as pessoas, na medida que vão caminhando, terão de pernoitar e gastar em locais diferentes, gerando renda em áreas que são mais excluídas economicamente”, explica Menezes.

Os quatro circuitos naturais são o Litorâneo, que liga o Oiapoque (Amapá) ao Chuí (Rio Grande do Sul); o Caminhos Coloniais, conectando a cidade do Rio de Janeiro a Goiás Velho (Goiás); o Caminhos dos Goyases, entre Goiás Velho e a Chapada dos Veadeiros (ambos em Goiás); e o Caminhos do Peabiru, ligando o Parque Nacional do Iguaçu (Paraná) ao litoral paranaense.

Entre as estruturas programadas para serem construídas estão pinguelas, mirantes e locais de pernoite.

Os caminhos serão sinalizados com uma pegada amarela sobre uma base preta, indicando o sentido a ser percorrido. De todo o percurso planejado, 1.900 quilômetros já estão prontos, contabilizando quatro das 132 trilhas que vão se conectar e compor os circuitos.

Menezes fala ainda da possibilidade de interligar as trilhas nacionais com as que já existem em países vizinhos como Argentina, Uruguai e Guiana Francesa. “Esses três países também têm os seus sistemas planejados, então nós planejamos o nosso de forma a possibilitar uma conexão continental. Ou seja, a tendência é que nos próximos anos os caminhos se tornem interligados na mesma lógica de uma conexão rodoviária.”

Para quando e para quem

A expectativa é de finalizar o projeto em 20 anos, mas, para Menezes, depende da vontade e capacidade do poder local ou da sociedade civil de se juntar à iniciativa. “A estratégia de implementação funciona assim: o corredor Litorâneo, por exemplo, será composto de 10 mil quilômetros de várias trilhas regionais, como a Rotas dos Faróis, que passa pela praia do Cassino (RS), depois o Caminho das Araucárias, entre Canela e São Joaquim (RS), a trilha Transcarioca, Transmantiqueira”.

Por conta disso e por passar em todos os estados brasileiros, a iniciativa é principalmente do governo federal, mas conta com apoio de governos estaduais, além de governos municipais e “sobretudo sociedade civil organizada, grupo de voluntários”. Menezes reitera que a ideia é de ser “um projeto cidadão, com muitos donos e não um só. Não é governo federal, não é governo estadual; todo mundo vai poder dizer ‘essa trilha é minha’”.

NEXO