Inspirado em coração, sistema gera energia com ondas do mar

Garantir o acesso universal e a preços acessíveis a serviços de energia está entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030. Um dos caminhos para alcançar este feito é diversificando a matriz energética e investindo em fontes renováveis. Neste sentido, a empresa sueca CorPower Ocean está apostando no desenvolvimento de uma tecnologia baseada na energia das ondas: o C4 (WEC).

O sistema consiste em um conversor que capta a energia das ondas e a transforma em eletricidade. Inspirado na mecânica de bombeamento do coração humano, a estrutura flutuante absorve energia em todas as direções graças aos seus movimentos na superfície da água. Um sistema de transmissão converte o movimento em eletricidade. Semelhante a uma boia, o dispositivo é conectado ao fundo do mar por um sistema de amarração de tensionada. Além disso, possui um design leve e de baixo custo.

“Nossos conversores de energia das ondas usam um sistema de pré-tensão para puxar a boia para baixo. Ondulações das ondas empurram a boia para cima, enquanto a pressão armazenada fornece força de retorno para impulsionar a boia para baixo. Isso resulta em uma produção igual de energia em ambas as direções”, explica a empresa.

O modelo é inspirado em patentes do cardiologista sueco Stig Lundbäck e sua pesquisa sobre bombeamento cardíaco e funções de controle. Segundo o engenheiro e CEO da CorPower, Patrik Möller, o modelo pode aproveitar todo o espectro de ondas, produzindo cinco vezes mais energia por tonelada do que qualquer outro sistema semelhante.

Outra vantagem, segundo a companhia, é que as estruturas compactas e leves são menos dispendiosas para transportar, instalar e fazer manutenção, reduzindo as despesas operacionais.

Em agosto de 2022, a empresa finalizou, após um ano, um programa rigoroso de testes da tecnologia em terra. O dispositivo C4 foi testado em condições adversas, que representam vários locais oceânicos ao redor do mundo, a fim de provar sua durabilidade e resistência a cargas, vibrações e estresse térmico. A fase final mostrou-se favorável até mesmo em situações de tempestade.

Nos últimos anos, o dispositivo passou por diversos estágios, o que incluiu testes no mar nas Ilhas Orkney, na Escócia, levando à construção do sistema C4 em escala comercial. Agora, está sendo preparado para instalação na costa de Aguçadoura, no norte de Portugal.

Conceito modular

Uma das apostas da empresa sueca é investir em sistemas modulares, formado por várias unidades que podem ser dispostas lado a lado criando uma “fazenda de ondas” conectada à rede. Em Portugal, por exemplo, a ideia é que seja implantando um conjunto composto por quatro estruturas ao largo da costa. Apelidado de CorPack, essa modalidade, segundo a companhia, pode fornecer até três vezes mais potência por área ocupada em comparação com um parque eólico offshore tradicional.

“Um cluster de ondas ‘CorPack’ de 10MW consiste em 28 unidades WEC, 9m de diâmetro com espaçamento de 150m, fornecendo alta potência por espaço oceânico”, detalha a empresa.

Para o diretor de integração e teste da CorPower Ocean, Jean-Michel Chauvet, esta nova tecnologia mostra o potencial da energia das ondas para trazer maior estabilidade ao sistema energético global e um futuro alimentado inteiramente por energias renováveis. Estes pontos são especialmente relevantes pelo fato de que, apesar das metas estabelecidas pelas ODSs, um relatório produzido por agências da própria ONU estima que cerca de 8% da população mundial, equivalente a 670 milhões de pessoas, permanecerá sem acesso à eletricidade até 2030.

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