Documentário sobre Pantanal é premiado em festival internacional
Acostumado a realizar expedições ao Pantanal, o documentarista de natureza Lawrence Wahba se deparou com um triste cenário em 2020. As chamas que devastaram o bioma, entre junho e outubro daquele ano, deixaram um saldo de mais de 15 milhões de animais mortos e um prejuízo ambiental sem precedentes. Em seu ofício encontrou uma forma de fazer a sua parte: retratar e divulgar as lamentáveis cenas, dando origem ao Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas, que acaba de ganhar uma premiação internacional.
Concorrendo com 700 produções de 38 países, o filme documental venceu o Prêmio Mérito de Sustentabilidade da 40ª edição do Wildscreen Festival. Produzido por Jefferson Pedace, o filme contou com a ajuda de outros cinco cinegrafistas: Thamys Trindade, Diego Rinaldi, Mike Bueno, Ernane Junior e Cesar Leite.
O mérito da documentação não se restringe às imagens captadas, Wahba idealizou a formação de uma brigada de incêndio, em agosto de 2020, que logo contou com o crescente apoio de voluntários. Em setembro, partiu para o Pantanal – atuando ele próprio na rede de voluntários.
Ao se dar conta da dimensão da tragédia e do diminuto grupo destacado por órgãos governamentais para enfrentar o recrudescimento das queimadas, as maiores desde 2006, Wahba articulou novas frentes para ampliar as ações da brigada voluntária composta por ribeirinhos, pescadores, indígenas, fazendeiros, entre outros.
“A ideia de criar a Brigada Alto Pantanal foi minha, mas o personagem central para a sua construção foi o Coronel ngelo Rabelo, do Instituto Homem Pantaneiro. Empregamos ribeirinhos com experiência no combate ao fogo e que estavam sem trabalho em meio à pandemia”, explica o cineasta.
Segundo ele, a brigada continua ativa e o pessoal treinado segue atuante no combate de incêndios. “Dois anos depois, os ribeirinhos estão treinados, uniformizados e capacitados, com salário e carteira assinada. Quando não tem incêndio, eles visitam comunidades, ajudam no manejo das roças e dão orientações sobre o uso do fogo”, orgulha-se.
A criação da Brigada Alto Pantanal, que protege uma área específica, a Serra do Amolar, contou com o apoio de empresários e de personalidades como Luciano Huck e Gisele Bundchen, que impulsionou doações de aporte financeiro. A iniciativa também inspirou ações de outras instituições do terceiro setor, como a ONG SOS Pantanal, resultando na criação de 26 brigadas. Os estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul também destinaram verbas para o combate aos incêndios.
Filmagens registram devastação do Pantanal
Em paralelo ao serviço voluntário, o documentarista começou a registrar o horror. O filme que planejava fazer, no início de 2020, com registros da exuberante beleza do Pantanal, ganhava agora outro caráter. Concluído em 2021, Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas, o impactante documentário foi exibido pela primeira vez na grade do Globoplay no dia 12 de novembro, o Dia do Pantanal.
O filme, que foi coproduzido pela Wahba Filmes e Jefferson Pedace, segue disponível, com exclusividade, na plataforma de streaming da Rede Globo.
“Jaguaretê-Avá não é uma experiência fácil. E faço um destaque especial ao Marco Del Fiol e à Tatiana Lohmann, diretores de documentários mundialmente reconhecidos e premiados, que foram os montadores. Por causa deles, digo que o filme tem praticamente três diretores”, comenta o diretor, às vésperas de vivenciar um momento de celebração aos seus 30 anos de apaixonada dedicação à causa ambiental.
Destaque internacional
Em 14 de outubro, Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas enfim chega ao público internacional, quando será exibido em Bristol, na Inglaterra, na programação do Wildscreen Festival, a mais importante mostra de filmes documentais sobre natureza e meio ambiente.
Com o impacto da exibição para o júri que selecionou os títulos que compõem essa edição especial da mostra britânica, que celebra 40 anos, Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas foi condecorado com uma premiação que enaltece seu forte teor de denúncia: o Mérito de Sustentabilidade.
“Ao mesmo tempo em que essa é a realização de um sonho, é também a lembrança de um pesadelo, porque eu gostaria mesmo é de ver um filme meu com as belezas do Pantanal na tela grande do festival. Esse é o filme que eu não gostaria de ter feito. Perto do que significaram os incêndios, esse prêmio não vale nada”, lamenta.
Lawrence Wahba conta ainda que parte do que for arrecadado com a venda internacional do filme será doada. “Quanto mais a mensagem se espalhar, mais a gente conseguirá manter as brigadas e os centros veterinários no Pantanal”, conclui.
O documentário Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas está disponível no Globoplay.