Casa em Piracicaba conquista selo internacional de sustentabilidade

Uma edificação concebida e programada em todos os detalhes para proporcionar o máximo de conforto e saúde, minimizando o impacto ao ecossistema local. Assim é a Residência Verde Piracicaba que está sendo construída em um condomínio no bairro Santa Rosa, no interior de São Paulo.

A casa em Piracicaba é a única do Brasil a obter, de forma simultânea: a Certificação internacional AQUA-HQE, de sustentabilidade; a etiqueta do Programa Brasileiro de Etiquetagem PBE-Edifica, de eficiência energética; e o Certificado da Norma ABNT NBR 9050, de acessibilidade.

Além de tecnologias ambientais ativas e passivas, a casa possui soluções pensadas para promover o convívio harmonioso, qualidade de vida para os futuros moradores (um casal de idosos), facilidade de manutenção, além de espaços acessíveis, acolhedores e seguros para receber os filhos e netos.

De acordo com o empreendedor, o engenheiro Fernando Berssaneti, a realização desse projeto foi um processo de desmistificação e quebra de paradigmas.

“As pessoas têm o pressuposto de que certificações são para grandes empreendimentos ou grandes empresas. Na prática, não é nada disso. É um investimento com valores superiores, se comparados aos projetos convencionais. Porém, há outros ganhos imediatos de operação e manutenção que devem ser levados em conta e, a médio e longo prazos, a tangibilização do retorno do investimento será melhor calculada”, ressalta.

O projeto demonstra uma mudança de cultura na construção de residências, explica o gerente comercial do AQUA-HQE, da Fundação Vanzolini, Bruno Casagrande.

“A Residência Verde terá soluções que reduzem o consumo de energia elétrica, água, recursos naturais e de emissão de gases efeito estufa, poluentes aéreos, líquidos e sólidos. Isso resulta em economia para o usuário e para a cidade, pois diminui a necessidade de o gestor público expandir os sistemas de infraestrutura e faz da edificação uma contribuinte, pioneira em Piracicaba, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU)”, afirma Casagrande.

A certificação AQUA-HQE, concedida pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini, é de origem francesa e foi adaptada ao Brasil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP).

A casa em Piracicaba é resultado de um estudo liderado pela arquiteta e professora Mirtes Luciani.

Soluções sustentáveis

De acordo com a arquiteta Luciana Abreu Braga, consultora do empreendimento, o mais importante em trabalhar com a certificação AQUA-HQE é o olhar holístico do processo.

“Nesse projeto nos preocupamos desde a relação do edifício com o entorno; controle de materiais; seleção de fornecedores e prestadores de serviços; controles de resíduos, com a instalação de um biodigestor para tratamento de esgoto; consumo de recursos naturais, água e energia elétrica; e otimização desses recursos com reuso de águas pluviais e uso de energias renováveis, entre outras soluções”, declara Braga.

A casa em Piracicaba é pioneira no Brasil ao utilizar a tecnologia da telha Tégula Solar da Eternit. Trata-se da primeira telha fotovoltaica de concreto do país. O sistema é capaz de transformar luz solar em energia – um resultado de três anos de testes e adaptações, segundo a fabricante.

De acordo com os resultados da simulação de energia feita por Braga, estima-se que a demanda anual de energia da residência será de 15.278,52 kWh/ano e a geração de energia solar de 10.903,44 kWh/ano. Dessa forma, a produção de energia renovável representará uma cobertura de 71% da demanda energética da edificação.

O sistema é composto por 840 placas que possuem 0,17m² de área útil de fotovoltaico. Cada telha tem uma capacidade média de 9,16Wp, totalizando 7.694,40Wp. As peças são compostas de módulos com células mono cristalinas de eficiência de 5,30%.

O projeto também conta com aquecimento da água de banho com sistemas de aquecimento solar e utilização de energia fotovoltaica. Essas tecnologias ajudam a mitigar a emissão de CO² e a reduzir o valor da conta de energia.

A gestão ecológica da água será feita por meio de reservatórios com filtros que captam as águas das chuvas e propiciam o reuso na irrigação de áreas verdes e abastecimento das bacias sanitárias. Estima-se que essas estratégias, combinadas a metais com dispositivos economizadores, garantam uma redução de 46% no consumo de água potável. Além disso, o esgoto da residência passará por um biodigestor antes de ser lançado na rede pública.

Por fim, um minucioso processo de gestão de resíduos ao longo da obra permitiu que 80% dos resíduos do canteiro fossem enviados para a reciclagem. Essa medida gera diminuição no custo da construção e enorme ganho ambiental, pois evita o envio de resíduos aos aterros.

Envelhecimento com acessibilidade

Outro ponto importante é que na casa em Piracicaba tudo foi pensado para ser eficiente e acessível. O respeito ao partido arquitetônico se valeu do declive, da frente para o fundo do lote, organizando de forma mais compacta e eficiente o programa de necessidades da família, concentrando as circulações e liberando mais área para o convívio.

Segundo a arquiteta Mirtes Luciani, responsável pelo projeto, “a edificação foi programada para se adequar às etapas e necessidades do envelhecimento. Um exemplo será a leve rampa na frente do lote calculada conforme a Norma de Acessibilidade ABNT NBR 9050, que possibilitará o acesso universal a todos os locais, inclusive ao jardim. No bloco íntimo, haverá acesso à cobertura onde se abre um teto verde sobre a laje. O local servirá como um Mirante para o rio Piracicaba, onde a família pode desfrutar o pôr do sol e a paisagem”.

Um dos aspectos determinantes para a sustentabilidade do projeto está no aproveitamento do terreno. Berssaneti explica que a residência foi concebida para aproveitar as quedas, movimentando o mínimo possível de terra e aproveitando a própria força da gravidade.

Segundo ele, “houve grande preocupação com a posição do terreno, com vistas ao melhor aproveitamento da luz natural e busca de conforto térmico para os cômodos. Isso gerará menor demanda de iluminação artificial, menor demanda de refrigeração ou aquecimento artificial e, consequentemente, menor consumo de energia elétrica”.

O projeto ainda foi sensível ao pensar em criar um marco na paisagem. A escolha foi pelo plantio da Tamboril, uma árvore nativa e ameaçada de extinção, em frente à casa, com porte compatível com o local. Símbolo da cidade, por ter a madeira leve, flutua com muita facilidade e, no passado, quase foi extinta pela facilidade em se construir canoas. Este foi um gesto simples do compromisso do empreendimento com os diferentes aspectos ambientais.

Após estudo aprofundado das variantes ambientais do entorno do bairro, onde foi construída a Residência Verde, foi possível projetar um ambiente interno com menos ruídos indesejáveis e, ainda, prover conforto térmico.

“A concepção planejada traz o entendimento de que todos os sistemas precisam de manutenção e isso ajuda a organizar os acessos, rotinas e a controlar os consumos, a eficiência e eventuais danos nos sistemas”, finaliza a arquiteta.

A inauguração da casa em Piracicaba está prevista para o dia 30 de agosto.

Ciclovivo