Empresas ignoram saída dos EUA do acordo de Paris e investem em energia limpa

Algumas das principais companhias norte-americanas prometeram reduzir emissões de gases estufa.

WASHINGTON – No dia 1º de junho, quando o presidente Donald J. Trump anunciou que os Estados Unidos abandonariam o acordo climático de Paris, muitas das maiores empresas dos EUA disseram que manteriam mesmo assim seu compromisso com o acordo, prometendo buscar formas mais limpas de energia e reduzir por conta própria as emissões de gases estufa.

Passado um ano, há uma área em que os resultados dessa promessa são claramente visíveis: a energia renovável. Dúzias de empresas da lista Fortune 500, incluindo gigantes da tecnologia como Apple, Google, Walmart e General Motors, estão investindo voluntariamente bilhões de dólares em novos projetos de energia eólica e solar para abastecer suas operações ou compensar o uso da energia convencional, conferindo um forte impulso ao crescimento da energia renovável.

“As empresas não reduziram seu apetite por energia renovável durante o governo Trump – na verdade, observamos um crescimento na demanda”, disse Malcolm Woolf, vice-presidente sênior de políticas do grupo empresarial Advanced Energy Economy, da área de energia limpa. “E isso significa que muitos fornecedores de energia precisam evoluir para satisfazer essa demanda.”

Mas resta saber se esses acordos corporativos de fornecimento de energia renovável serão apenas um nicho de mercado, ou se essas empresas podem ajudar a dar início a uma nova era de energia com baixa emissão de carbono.

No ano passado, 19 grandes empresas dos EUA anunciaram acordos com provedoras de eletricidade para a construção de 2,78 gigawatts em capacidade de geração de eletricidade solar e eólica, o equivalente a um sexto de toda a capacidade renovável acrescentada à rede americana em 2017, de acordo com Centro de Renováveis Empresariais do Instituto Rocky Mountain (as próprias empresas de energia acrescentaram boa parte do restante da capacidade, frequentemente em resposta a mandatos estaduais).

Essa tendência parece estar se acelerando. As corporações anunciaram acordos para a instalação de outros 2,48 gigawatts de capacidade de geração solar e eólica nos primeiros cinco meses de 2018, com empresas como AT&T e Nestlé participando da busca por energia mais limpa para atender aos seus objetivos e valer-se do custo cada vez mais baixo da energia renovável.

“Não pensamos nisso como uma declaração a respeito do acordo de Paris, embora a mensagem seja de que certamente seguimos aderindo ao que foi negociado”, disse Brian Janous, gerente-geral de energia da Microsoft, que por enquanto comprou energia solar e eólica suficiente para atender a 50% da demanda de suas centrais de dados espalhadas pelo mundo. “Mas o preço da energia solar e eólica está caindo tão rapidamente que essa estratégia passa a fazer sentido do ponto de vista financeiro.”

Pelo menos 22 empresas do índice Fortune 500 se comprometeram com a compra de energia renovável suficiente para equivaler a 100% do seu uso de eletricidade nos próximos anos. E alguns analistas dizem que essas metas podem ajudar a incentivar as empresas de fornecimento elétrico a seguir reduzindo suas emissões de gases-estufa.

“Acreditamos que se trata de uma importante tendência”, disse Lisa Wood, vice-presidente de soluções para o consumidor do Instituto Elétrico Edison, importante grupo de representantes da indústria. “Os fregueses estão mobilizando essa mudança.”

Estadão