Sobre carros elétricos e vontade política para amenizar a poluição nas grandes cidades

A cidade de Oxford, na Inglaterra, tem planos audaciosos para daqui a três anos.

A ideia é tirar todos os veículos poluentes de uma certa parte do Centro e se tornar, assim, o primeiro lugar com uma espécie de zona de emissões zero. À medida que as tecnologias forem se aprimorando, segundo a reportagem publicada hoje no jornal britânico “The Guardian”, este pequeno nicho de saúde pode se estender para outras partes da cidade e, até 2035, todos os veículos grandes e pesados podem ser banidos das ruas do Centro de Oxford.

É um plano corajoso que está recebendo todo o apoio do governo, que já mandou instalar postos de recarga para veículos elétricos e vai reduzir tarifas de estacionamento para esse tipo de carro a fim de estimular que as pessoas o tenham. Segundo um dos administradores da cidade, a atitude é importante e urgente porque a poluição do ar da cidade está pondo em risco a saúde de seus moradores.

Aqui, um parêntesis: tenho muita inveja de pessoas que moram em locais onde os dirigentes, de fato, se importam com os cidadãos. Muita inveja.

Mas, voltando ao tema, lembrei-me de um vídeo que assisti já faz um tempo e que vale a pena ser revisto, até para entender melhor o que pode estar imbricado nesse processo de estímulo ao uso dos carros elétricos. Chama-se “Quem matou o carro elétrico”, foi escrito e dirigido por Chris Paine em 2006 e está à disposição na web.

A história é contada a partir da experiência dos californianos, que tiveram vários desses carros em circulação pelas ruas da cidade, se apaixonaram por eles e viram, misteriosamente, os veículos retirados de circulação dez anos depois. O documentário faz quase uma investigação paralela para saber a quem o carro elétrico incomodou tanto. E, é claro, tira várias conclusões.

Tudo começou, na visão do documentarista, em 1987, quando o então presidente da GM Roger Smith pediu a um engenheiro que fizesse um protótipo de carro elétrico a partir de um exemplar de carro movido a energia solar. A experiência foi feita, mas o modelo teria mostrado que havia alguns problemas de ordem prática que precisariam ser enfrentados: o carro precisava ser recarregado de 200 em 200 quilômetros, o que o tornaria menos atraente ao consumidor.

Mesmo assim, tinha uma vantagem: a despeito de todo o gasto de energia, segundo estudos feitos por especialistas ouvidos no documentário, mesmo que fosse usada energia extraída do carvão, o carro elétrico seria menos poluente do que a gasolina queimada no carro comum. Além de ser muito mais silencioso.

Bem, o fato é que, mesmo com alguns inconvenientes práticos, o carro elétrico começou a atrair a atenção dos consumidores e já havia até lista de espera para compra nas montadoras. Virou uma paixão na cidade da Califórnia. Até que tudo mudou. As fábricas começaram a desacelerar o processo de fabricação e não faziam quase nenhuma propaganda do produto. O processo foi sendo rapidamente freado e, em 2001, a GM, uma das mais companhias que mais tinha investido no modelo, fechou sua linha de montagem dos carros elétricos.

Californianos adeptos ao modelo fizeram vigília na porta da fábrica, houve protestos, mas o destino dos EV1, como eram chamados, não foi dos mais nobres: recolhidos de seus proprietários, já que todos eram usados em sistema de leasing, foram esmagados e triturados como lixo.

O documentário aponta várias causas para esse fenômeno, mas é claro que a maior desconfiança recai sobre a indústria de petróleo norte-americana. O governo dos Estados Unidos também teria contribuído, criando taxas de isenção maiores para os carros utilitários. O filme mostra ainda um pouco mais sobre a opção dos carros híbridos: movidos a gasolina mas com motor elétrico que funciona de forma a fazê-lo economizar mais.

Um dos detalhes, bastante relevante, que pode travar a experiência dos carros elétricos é, justamente, a recarga. São baterias que também precisariam ser descartadas em algum momento, e aí é possível que seja criado mais um lixo eletrônico com o qual a humanidade teria que se virar para dar um fim a ele. Outra questão é a durabilidade da bateria. De quanto em quanto tempo o carro precisa ser recarregado? Fundamental para se descobrir a autonomia desses veículos.

Detalhes que a tecnologia de hoje, quatro décadas depois dos primeiros modelos começarem a ser pensados, certamente já estará mais do que apta a resolver.

Seja como for, é importante o exemplo de Oxford, como também é importante o exemplo de Copenhague, que quer ser a primeira capital neutra em emissões de carbono no mundo. O objetivo está fixado para 2025, mas o Plano para o Clima de Copenhague, aprovado em 2009, já reduziu em 38% a poluição na cidade.

Para isso, porém, é preciso ter vontade política. Entre outras coisas, Copenhague está investindo pesadamente em criar boas ciclovias e incentivando as empresas a apoiarem o uso de bicicletas elétricas. Lá também está havendo um estímulo para os carros elétricos, como também para o uso de transporte público, cuja frota também será carbono neutro até 2025.

Sim, caros leitores. A nossa realidade aqui no Brasil, cujo governo atual tem dado mostras de pouco ou nenhum interesse ao meio ambiente, é muito distante dos exemplos que citei aqui. Conhecê-los, porém, é fundamental, até para saber que é possível.

G1