Engenheiro cria “isopor” biodegradável com resíduos agrícolas

Deixar um mundo melhor para as próximas gerações é um discurso que muita gente repete – e uma meta urgente se quisermos um futuro possível. Para o engenheiro Arpit Dhupar, que vive em Delhi, na Índia, esta motivação se tornou ainda mais forte quando ele viu que nos desenhos de seu sobrinho, o céu era sempre cinza.

O menino reproduzia o céu tomado pela fumaça gerada pela queima dos resíduos das plantações de arroz, muito comum na região. Para ajudar a resolver este problema, Arpit descobriu um novo destino possível para este material: a fabricação de um substituto para o isopor. Além de reaproveitar os resíduos, ele criou uma alternativa muito mais sustentável para embalagens e outros produtos.

O isopor tem características muito interessantes, como o isolamento térmico e acústico, absorção de choques, textura leve e versatilidade para os mais diversos usos. Por isso, se tornou muito popular e amplamente usado no mundo. Mas este é mais um material que tem um impacto devastador para o planeta.

O isopor é uma forma expandida de poliestireno e se enquadra na categoria de polímeros. Produzido e vendido em grandes quantidades e usado com uma enorme frequência, ele é muito difícil de ser reciclado ou reaproveitado e a sua queima libera gases tóxicos.

Apesar de ser reciclável, o processo é caro e a coleta complicada, já que os materiais recicláveis são vendidos por peso, não por volume. Como é um material extremamente leve, armazenar e transportar quantidades significativas de isopor é um desafio enorme. Sem um destino pós-consumo adequado, o ideal é que o isopor fosse substituído por outros materiais.

E uma boa alternativa é justamente o “isopor” de material biodegradável desenvolvido por Arpit Dhupar e comercializado pela Dharaksha Ecosolutions, empresa que o engenheiro indiano começou em 2019. O uso dos resíduos da colheita do arroz para fabricar este novo material resolve dois problemas: reaproveita o que seria incinerado e oferece uma alternativa sustentável a um material nocivo ao meio ambiente e à nossa saúde.

“Não devemos viver em um mundo onde temos que explicar para as crianças que o céu deve ser pintado de azul”, conta Dhupar.  Com isso em mente ele tirou um período sabático para entender melhor a realidade da sua região. O engenheiro viajou para as aldeias de Punjab e Haryana e viu como e porque os restos da colheita de arroz eram queimados.

Por ser muito úmido, o material não poderia ser usado como combustível e, ao mesmo tempo, os agricultores precisavam limpar a sua terra o mais rápido possível. A incineração era a única opção que eles conheciam.

A mudança começou com Dhupar usando enfardadeiras para comprimir e empilhar os resíduos, o que ajudou a diminuir o problema dos agricultores. Depois, com a ajuda do amigo Anand Bodh, o engenheiro instalou sua fabrica para receber e dar um novo destino ao material.

A ideia inicial era usar cogumelos para degradar o material, mas observando este processo natural, Dhupar percebeu que o micélio, partir deste processo surgiu um material biodegradável semelhante ao isopor. Com os cogumelos crescendo nos resíduos de arroz, percebeu o micélio (uma rede de fibras finas que os cogumelos formam sob o solo) tinha a capacidade de aglutinar as palhas de arroz, formando uma estrutura resistente.

Dhupar percebeu que este novo material era semelhante ao isopor. O engenheiro passou então a estudar as necessidades do mercado e as possibilidades para o novo material, formado pelos cogumelos e resíduos da colheita de arroz. “O isopor é pior do que o plástico e é chocante o quão pouco se fala sobre esse material”, diz.

“Isopor” biodegradável

Hoje o material fabricado pela Dharaksha Ecosystems já tem um modo de produção testado e aprovado. A palha de arroz que chega à fábrica é esterilizada e então os cogumelos são adicionados ao material. O micélio cresce, formando uma espécie de estrutura interligada que mantém o material firme, sem a necessidade resinas.  A mistura é então levada ao forno, onde os cogumelos são neutralizados.

O material resultante possui inúmeras propriedades, tornando-o um excelente material de embalagem. Para começar, é à prova de chamas e, portanto, pode tolerar gravações a laser. Ele também é resistente à umidade e é antiestático – uma qualidade que é crucial no transporte de PVCs. Além disso, a capacidade de amortecimento é superior à do isopor, o que pode reduzir o tamanho geral da caixa.

Desde que foi fundada, a fábrica já reaproveitou mais de 250 toneladas de resíduos de arroz de 100 acres de terras agrícolas em Punjab e Haryana. Os agricultores recebem por algo que em outros tempos viraria fumaça e, além disso, toneladas de isopor foram substituídas por um material biodegradável.

Entre os principais clientes da Dharaksha Ecosystems estão empresas que transportam seus produtos em embalagens de vidro. “Comecei o empreendimento com o objetivo de tornar o céu azul. Sinto-me satisfeito por estarmos a fazer a diferença”, afirma.

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