Natureza ganha cargo de diretoria em empresa na Inglaterra
A preocupação com o meio ambiente está no discurso e em propagandas de muitas marcas e empresas. Mas algumas estão realmente colocando isso em prática. Recentemente, Yvon Chouinard, fundador da marca de roupas Patagonia transferiu a propriedade da empresa, avaliada em US$ 3 bilhões, para duas entidades que atuam no combate à crise climática. Agora, a Faith in Nature, empresa de produtos de higiene e beleza, deu à própria natureza um cargo de diretoria em seu conselho.
Na prática, a empresa vai colocar nas reuniões do conselho uma pessoa que represente os interesses do mundo natural para que a natureza tenha uma voz legalmente reconhecida nas decisões estratégicas do negócio.
Direitos da Natureza
No dia 28 de julho de 2022, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o meio ambiente limpo, saudável e sustentável como um direito humano. Além disso, alguns países, como o Panamá, já reconhecem legalmente os “direitos da natureza” e outros, como o Equador e Costa Rica, concederam cidadania e direitos a outras espécies de animais e plantas.
Mas, no âmbito corporativo, a A Faith In Nature afirma que é a primeira empresa do mundo a dar à natureza um voto formal em decisões que possam afetá-la. O diretor criativo, Simeon Rose, disse esperar que outras empresas que levam a sério sua responsabilidade com o mundo natural sigam o exemplo.
“Estamos muito felizes em compartilhar detalhes de como e por que fizemos isso”, disse Rose. “Sempre quisemos que a natureza estivesse no centro do que fazemos, e esse parecia ser o próximo passo sério que poderíamos dar para tornar isso realidade.”
Procuradores da natureza
A pessoa que vai representar a natureza nas reuniões não é fixa e vai poder consultar uma rede de especialistas em diversos temas como biodiversidade, poluição, plásticos, energia ou gestão da água. Estas informações vão ajudar a tomar as melhores decisões em questões que vão desde o fornecimento de ingredientes até a embalagem, sempre colocando as necessidades da natureza em primeiro lugar.
Em comunicado, a Faith in Nature explica que “a presença deste representante da natureza terá um impacto fundamental na forma como fazemos negócios e garantirá que a natureza tenha voz e um assento à mesa nas principais decisões de negócios.”
A primeira representante da natureza já foi escolhida. Brontie Ansell, é diretora da Lawyers for Nature, uma das equipes jurídicas que ajudou a Faith in Nature a criar esse modelo, juntamente com o Earth Law Center.
Brontie afirma que seu papel seria semelhante a um guardião agindo em nome de uma criança em um tribunal e esta otimista em relação ao seu novo trabalho. Para ela, a empresa está disposta a fazer mudanças significativas e ter o comitê de especialistas para consultas vai ser fundamental para isso.
“Não é minha função ter todas as respostas. Acho que meu papel é pegar informações complexas e traduzi-las de forma que o conselho possa realmente decidir bem”, disse Ansell.
Entre as ideias que Brontie quer colocar em prática estão reuniões do conselho em ambientes naturais, como florestas, “para forçá-los a tomar decisões sobre coisas que afetam a natureza, na própria natureza”.
“Não acho que isso vá salvar o mundo da noite para o dia, mas é muito importante mergulhar as empresas no lugar onde suas decisões estão surtindo efeito.”
A remuneração de quem representa a natureza no conselho é separada dos demais membros, justamente para garantir autonomia. Mas, mesmo que seja um membro independente, este representante terá as mesmas responsabilidades legais que qualquer outro diretor ou diretora.