Projeto debate os desafios do aleitamento e da introdução alimentar
A alimentação adequada e saudável nos primeiros dois anos de vida é decisiva para a saúde da criança e tem reflexos em toda a vida adulta. Entre os dias 01 e 07 de agosto, durante a Semana Mundial do Aleitamento Materno, o Sesc São Paulo realiza a quarta edição do projeto Do Peito ao Prato, iniciativa que leva ao público uma programação com ações relacionadas ao tema, em unidades da capital, interior e litoral, além das atividades on-line. Toda a programação é gratuita.
A relação entre o ser humano e a comida inicia-se com a amamentação. O leite materno é o primeiro alimento da criança, contém anticorpos e outras substâncias que protegem o organismo na infância. Porém, amamentar ainda é um ato repleto de desafios sociais. A programação de Do Peito ao Prato tem como objetivo ampliar esse debate e abordar questões acerca da sociedade.
Rodas de conversa, bate-papos, vivências, oficinas, cursos e exibições de filmes lançam luz sobre a prática do aleitamento materno, que é construída a partir de influências políticas, econômicas e científicas. Entre os assuntos que serão abordados, destaque para a importância da rede de apoio de uma lactante e o estímulo aos pais e outros familiares a participarem ativamente do processo de cuidar dos bebês; a amamentação e os desafios da mãe ao retorno ao trabalho; a importância da introdução alimentar adequada; banco de leite e muito mais, serão temas dos especialistas.
“É fundamental realizarmos um projeto como esse e compartilharmos conhecimentos com base no saber científico e em vivências pessoais enriquecedoras. Com isso, contribuímos com a saúde e a qualidade de vida desde os seus primeiros anos, fortalecendo a missão do Sesc de atender os seus públicos em cada etapa da sua existência. Também empoderamos mães, pais e a sociedade em geral, difundindo as informações necessárias às melhores escolhas alimentares”, declara Marcia Bonetti Sumares, Gerente da Gerência de Alimentação e Segurança Alimentar, no Sesc São Paulo.
A unidade do Sesc São Caetano participará da ação realizando o encontro Amamentação e introdução alimentar: para adultos e bebês”, dia 6/8, às 11h, presencial no Espaço de Teologias e Artes. A palestrante convidada é a nutricionista Shirlei Tessarini, que parte das dúvidas mais práticas sobre a amamentação, como as redes de apoio a amamentação em todo o seu ciclo.
Como coletar e armazenar o leite materno, como amamentar no retorno ao trabalho, a importância dos bancos de leite no apoio as mães, até a introdução alimentar. As atividades são livres e gratuitas com inscrições pelo sescsp/incricoes.
Shirlei Tessarini é nutricionista e mestra no ensino em ciências de saúde pela Anhanguera. Implantou e coordenou os dois Bancos de leite humanos existentes no município de Santo André – Hospital Mário Covas e Hospital da Mulher. Em sua carreira, atuou como nutricionista clínica, como gestora, coordenadora técnica de equipes multidisciplinares de terapia nutricional em conceituados hospitais. Atualmente, além de assessoria de educação em saúde, atua na área acadêmica.
História da Amamentação no Brasil
No Brasil, a amamentação também tem uma história. Partindo de 1500, é possível estabelecer uma cronologia, desde quando os portugueses ficaram impressionados ao verem indígenas amamentando por dois anos, ou mais. Com o passar do tempo, novas tecnologias e a entrada da mulher no mercado de trabalho, na década de 1930, leites industrializados começaram a ser produzidos, e em 1970 o país enfrentou uma epidemia devido ao desmame precoce. Iniciaram-se na mesma década estudos científicos sobre a importância do leite materno.
Importantes leis relacionadas ao assunto começaram a surgir, como a regulamentação dos Bancos de Leite (1988), a licença maternidade (1988), o direito da criança ao aleitamento materno segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), além de outras relevantes iniciativas, como a criação da Semana Mundial de Aleitamento Materno (1992) e o Agosto Dourado (2017).
Cronologia: A Amamentação ao longo dos séculos
1500: Ao chegarem ao Brasil, os portugueses se depararam com indígenas com o hábito de amamentar por dois ou mais anos. Foi um susto! Os europeus estavam acostumados a interromperem o aleitamento em um período inferior.
1869: O Jornal do Commercio publica: “Vende-se uma crioulla de 18 anos de idade, sem o menor defeito, muito ellegante e propria para ama de leite por ter um filho recemnascido.” O anúncio da ama-de-leite, como tantos do período, é um registro de um Brasil marcado pela comercialização do peito.
1930: Com a industrialização e o fortalecimento da entrada da mulher no mercado de trabalho, a indústria passou a investir em tecnologias de desenvolvimento de leite artificial para bebês.
1970: Com o fortalecimento das fórmulas e mamadeiras, o país enfrenta uma epidemia causada pelo desmame precoce.
1974: Em Pernambuco, uma portaria estadual proíbe a propaganda de fabricantes e distribuidores realizada por meio da doação de leite em pó a mães em hospitais. O documento é um dos primeiros do gênero no país.
1970 e 1980: Estudos científicos apontaram que o leite materno é único, inigualável e insubstituível.
26 de maio de 1988: O Ministério da Saúde publica a portaria 322, aprovando normas voltadas à regulamentação, à instalação e ao funcionamento de Bancos de Leite Humano.
5 de outubro de 1988: É promulgada a Constituição Cidadã, que garante à mulher o direito a 120 dias de licença maternidade e 5 dias ao pai.
20 de dezembro de 1988: O Conselho Nacional de Saúde publica a Norma de Comercialização de Alimentos para Lactentes (NBCAL), um conjunto de diretrizes sobre a propaganda e a rotulagem de produtos voltados a recém-nascidos e crianças de até três anos de idade.
1990: Estatuto da Criança e do Adolescente é publicado pela lei federal n° 8.069 e garante que toda criança tenha direito ao aleitamento materno.
1992: A Organização Mundial de Saúde, por meio do Unicef, cria a Semana Mundial de Aleitamento Materno, de 1 a 7 de agosto, dedicada à sensibilização sobre a importância do aleitamento materno.
1994: São estabelecidas as diretrizes e normas para uma instituição ser considerada uma IHAC (Iniciativa Hospital Amigo da Criança), certificação de qualidade conferida aos hospitais que cumprem os Dez passos para o sucesso do Aleitamento Materno.
1998: É criada a Rede Brasileira de Bancos de Alimentos (rBLH-BR), com o objetivo de promover, proteger e apoiar o aleitamento materno, coletar e distribuir leite humano com qualidade certificada e contribuir para a diminuição da mortalidade infantil.
2003: O Ministério da Saúde estabelece 01 de outubro como o Dia Nacional de Doação de Leite Humano.
2006: A NBCAL é sancionada (Lei n° 11.265) e regulamenta a comercialização de alimentos para lactantes e crianças na primeira infância.
2006: São definidos os parâmetros pela RDC n° 171 para a criação de salas de apoio nos locais de trabalho. Entre eles, está a metragem mínima, a instalação de pontos de água fria e a presença de freezer ou refrigerador com congelador e termômetro.
2017: A Lei n 13.435 instituiu o Agosto Dourado, um mês no qual são realizados cursos, palestras e diversas outras ações a respeito do tema. A cor dourada é eleita porque o leite materno é considerado um alimento “padrão ouro”, não existe outro igual.