Calor no Canadá supera casos de piores modelos climáticos

Ondas de calor extremos normalmente são relacionadas a países onde as temperaturas já são normalmente altas. Mas, nos últimos dias, os termômetros subiram em uma pequena cidade nas montanhas do Canadá. Lytton fica em uma região arborizada, com rios e cadeias montanhosas.

Descrita no site da prefeitura como “o local ideal para os amantes da natureza se conectarem com a incrível beleza natural, a liberdade de ar fresco”, a pequena vila está em uma bolha de calor que envolveu parte do Canadá e Estados Unidos e que pode ter sido responsável por mais de 500 mortes.

Cientistas do clima estão alarmados com o calor intenso e questionam se os modelos climáticos falharam em prever as condições que serão enfrentadas em um futuro não tão distante.

Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, disse que as recentes anomalias climáticas extremas não foram representadas em modelos de computador globais que são usados ​​para projetar como o mundo pode mudar com mais emissões.

É UM RISCO DE UM SÉRIO IMPACTO CLIMÁTICO REGIONAL PROVOCADO PELO AQUECIMENTO GLOBAL QUE SUBESTIMAMOS ATÉ AGORA.”

Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático

Calor e fogo

O recorde de temperatura no Canadá foi quebrado em Lytton, chegando a 49,6°C na última semana, de acordo com a estação de monitoramento local. Depois do calor, veio o fogo que começou na floresta e chegou à cidade.

O prefeito emitiu ordem de evacuação da cidade na última quarta-feira. Segundo ele, o fogo se espalhou rapidamente. “Demorou cerca de 15 minutos desde o primeiro sinal de fumaça para, de repente, haver fogo por toda parte”, declarou Jan Polderman.

No dia seguinte, imagens de satélite revelavam fogo e fumaça ao redor de Lytton e em toda a região.

Recordes de calor pelo mundo

Cidades americanas como Olympia e Quillayute, no estado de Washington, também registraram recordes de temperatura com os termômetros marcando 6°C a mais do que o calor máximo já registrado, de acordo com o Weather Prediction Center. Em Oregon, a cidade de Salem atingiu 47°C, superando o recorde anterior em 9°C. Várias áreas da Califórnia e Idaho também registraram novos picos de calor.

Na semana anterior, o norte da Europa e a Rússia também sofreram uma bolha de calor sem precedentes. Os recordes de junho foram quebrados em Moscou com 34,8°C, Helsinque com 31,7°C, na Bielo-Rússia com 35,7°C e Estônia com 34,6°C.

Na Sibéria, uma onda de calor ajudou a reduzir a quantidade de gelo marinho no Mar de Laptev. Já a cidade russa de Oymyakon, considerada o lugar habitado mais frio do mundo, registrou 31,6°C. Isso ocorreu após um período de calor assustadoramente prolongado na Sibéria no ano passado, que durou vários meses.

Uma surpresa alarmante

A intensidade do calor no noroeste das Américas neste ano e na Sibéria no ano passado pegou muitos cientistas de surpresa e sugeriu que fatores extras podem estar envolvidos nas latitudes ao norte.

Uma teoria é que o recente pico de temperatura pode ter sido causado não apenas pelo aquecimento global, mas pela desaceleração dos sistemas climáticos estagnados em diferentes locais por um período prolongado, o que intensifica as ondas de calor e seus danos.

Esse foi um fator importante na devastação no Texas causada pelo furacão Harvey em 2018, que ficou acima de Houston por vários dias, em vez de soprar para o interior e enfraquecer. Frentes de alta pressão bloqueadas também foram responsabilizadas pela onda de calor escaldante na Europa em 2019.

Michael Mann, diretor do Centro de Ciência do Sistema Terrestre da Universidade Estadual da Pensilvânia, disse que o calor inesperadamente intenso desta semana em Lytton e em outros lugares deve levar os climatologistas a considerar impactos adicionais da atividade humana.

“Devemos levar este evento muito a sério”, escreveu ele por e-mail. “Você aquece o planeta, você verá um aumento na incidência de extremos de calor. Os modelos climáticos captam esse efeito muito bem e preveem grandes aumentos nos extremos de calor. Mas há algo extra acontecendo com essa onda de calor e, de fato, com muitos dos extremos climáticos muito persistentes que vimos nos últimos anos nos Estados Unidos, Europa, Ásia e em outros lugares, onde os modelos não estão capturando o impacto de das Alterações Climáticas.”

Independentemente de quais interações sejam as culpadas, os cientistas concordam que a maneira mais simples de reduzir o risco de novas oscilações de temperatura é cortar as emissões de combustíveis fósseis e interromper o desmatamento.

“Parece que essa onda de calor ainda é um fenômeno raro no clima atual, mas se permanecerá assim depende de nossas decisões”, disse Friederike Otto , diretor associado do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford.

SE O MUNDO NÃO ELIMINAR RAPIDAMENTE O USO DE COMBUSTÍVEL FÓSSIL E OUTRAS FONTES DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA, COMO O DESMATAMENTO, AS TEMPERATURAS GLOBAIS CONTINUARÃO A AUMENTAR E ONDAS DE CALOR MORTAIS COMO ESSAS SE TORNARÃO AINDA MAIS COMUNS.”

Friederike Otto , diretor associado do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford

CicloVivo