Escolas indígenas seguirão o conceito de autossuficiência a partir de 2021

Energia solar, reutilização da água da chuva e ampliação programada sem necessidade de demolição dos espaços são as novidades da nova escola indígena, cujas obras programadas pelo governo Gladson Cameli terão início no próximo ano.

Visto de cima, o projeto mais se parece com módulos das colônias espaciais de algum planeta inóspito imaginado apenas por cineastas da estirpe de James Cameron e o seu ultrarrealista Avatar. Mas o designer das novas escolas indígenas do Acre – cujas primeiras unidades começam a ser construídas em 2021 -, além de futurista, leva em consideração uma questão crucial neste século, a autossuficiência energética com proteção ao meio ambiente.

A pedido do governador Gladson Cameli, a equipe de criação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Regional (Sedur) elaborou o projeto levando em consideração tecnologias e soluções ecologicamente viáveis no interior da selva amazônica, onde gás de cozinha e energia elétrica, só para citar dois exemplos, são praticamente inexistentes ou são privilégios de algumas pouquíssimas aldeias indígenas mais próximas das zonas urbanas.

Nesta quinta-feira, 24, o secretário de Educação, Mauro Sergio Cruz, foi apresentado ao programa pela chefe do Departamento de Criação da Sedur, a arquiteta Soad Farias, e sua equipe de engenheiros e arquitetos. Farias explica que a Nova escola indígena ambiental – padrão modular, como é chamado o projeto, tem como base seis conceitos fundamentais. Eles são a adaptabilidade, a funcionalidade, a identidade, a tecnologia, a versatilidade e a viabilidade.
A lógica é a de que as escolas sejam construídas otimizando custos que não influenciem na qualidade da obra. Um exemplo é a terraplanagem que não será necessária, já que poderão ser erguidas sobre qualquer terreno, inclusive sobre terras encharcadas, utilizando-se de materiais relativamente simples, robustos e muito viáveis economicamente.
“Só para citar um exemplo, quando houver necessidade de ampliação, essa solução virá com a expansão dessas salas em módulos de 50 metros quadrados, eliminado a necessidade de demolição dos já existentes”, ressalta Soad Farias. Segundo ela, “esses fatores desoneram muito a construção e garantem a viabilidade da obra”.A tecnologia estará presente tanto nos compostos usados na construção, quanto no sistema de energia solar e de filtragem da água da chuva, que poderá ser usada para descarga nos vasos sanitários e para a lavagem de utensílios como pratos, panelas e talheres, no refeitório.

A cobertura, com iluminação zenital – que é a entrada de luz natural por meio de uma abertura no teto -, terá proteção com policarbonato azul e alveolar de seis milímetros, um dos aspectos que dá um ar futurístico ao projeto.

O teto é de telhas ondulares em alumínio, com subcobertura em manta térmica impermeável do tipo duralfoil. A estrutura receberá painéis solares sobre o salão multiuso, localizado ao centro da escola, que terá forma de uma figura geométrica de hexágono [de seis lados]. Já o piso será construído em laje de concreto, com nata de cimento queimado. (Veja mais sobre essas especificações técnicas abaixo e no vídeo de apresentação).

Valorização dos povos tradicionais

A rede da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE) tem hoje 147 escolas indígenas, com pelo menos 5.954 estudantes matriculados, segundo a Coordenação da Educação Indígena. Se somados aos alunos matriculados nos municípios, esse número salta para 8.942 pessoas, dos quais 508 estão cursando o ensino médio.

Na modalidade de ensino médio, o estado tem hoje 22 escolas indígenas, sendo que algumas oferecem também o programa Asas da Florestania, sob a coordenação do Departamento de Educação no Campo.

Na opinião do secretário, “é preciso levar dignidade a essas comunidades”. “E esse está sendo o compromisso do governador Gladson Cameli, que abraçou com carinho a valorização dos povos tradicionais”, pontua Cruz, referindo-se, não só às famílias indígenas como também aos colonos e ex-seringueiros moradores dos projetos de assentamento agroextrativistas.

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