Onde está a fauna brasileira? Panorama do tráfico de animais revela futuro preocupante
Terceira maior atividade ilegal do mundo, a prática é responsável por tirar da natureza 38 milhões de silvestres do Brasil por ano.
Brasil. A casa para o maior número de espécies animais do mundo é também a principal área de captura e comércio ilegal da vida silvestre.
Considerado a terceira maior atividade ilícita, depois das armas e das drogas, o tráfico de animais movimenta pelo menos 10 bilhões de dólares por ano. E é do Brasil que grande parte das espécies é retirada.
De acordo com o coordenador geral da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), Dener Giovanini, os países com maior variedade de espécies animais são os preferidos pelas quadrilhas e organizações criminosas, tanto para exportação quanto para o comércio nacional.
“Grande parte dos animais capturados ilegalmente são vendidos aqui no País, mas outra parte considerável abastece os mercados internacionais”, diz.
De cada 100 animais, pelo menos 70% são comercializados no Brasil
Tido como um importante fornecedor para o tráfico internacional, o Brasil passou a se destacar também pela importação ilegal de espécies. “O interesse por serpentes, aranhas e escorpiões como animais de criação tem aumentado o número de importações”, explica Dener, que alerta para uma séria consequência ambiental. “A inevitável disseminação de espécies invasoras podem causar graves problemas pro País”, completa.
A preocupação não é em vão: zoonoses como febre amarela, hepatite A, malária, tuberculose, raiva e toxoplasmose, por exemplo, podem ser transmitidas pelos primatas e, se não tratadas adequadamente, são doenças letais.
A fauna exótica introduzida pode se tornar invasiva, conquistar áreas muito maiores do que as previstas, suprimir a fauna nativa e transmitir novas doenças. Mais de 180 tipos de zoonoses transmitidas por animais já são conhecidas
Estado de alerta
Além dos problemas sanitários e dos riscos com espécies invasoras, o tráfico de silvestres ameaça a sobrevivência dos ecossistemas.
Só no Brasil, 38 milhões de animais são retirados da natureza por ano. Por isso, a caça para subsistência ou comércio ilegal é a segunda principal ameaça à fauna brasileira, após a perda do habitat.
“Toda a questão ambiental do Brasil é muito preocupante. Ameaças, como a perda de cobertura vegetal e a diminuição das áreas de conservação, devem fazer parte de uma agenda onde as ações sejam interligadas”, destaca Dener, que entende a necessidade de estratégias eficientes para ações de fiscalização.
O estresse emocional é uma das consequências dos maus tratos durante a captura ilegal .
“Políticas estão sendo implementadas de forma a diminuir a fiscalização, políticas que vão necessariamente levar a uma diminuição das áreas protegidas e isso, sem dúvida, prejudica o meio ambiente”, lamenta.
“Nós nunca estivemos em uma situação tão crítica, tão perigosa e tão negativa no que diz respeito à proteção dos recursos ambientais brasileiros. A situação é extremamente preocupante e com um cenário ameaçado no horizonte do País” — Dener Giovanini, coordenador geral Renctas
Na luta contra a ilegalidade
Os esforços para mudar esse cenário, porém, apresentam resultados: desde 2000, as equipes da Renctas – uma instituição sem fins lucrativos -, elaboram ações e estratégias contra o comércio ilegal da fauna brasileira, produzindo dados e diagnósticos sobre a prática e capacitando forças de fiscalização.
O contrabando de grande porte pode envolver grandes comerciantes brasileiros e estrangeiros.
Além disso, campanhas de educação ambiental motivam a sociedade a lutar pelo combate da prática ilegal. “Antigamente o comércio de animais era corriqueiro. Era comum encontrar espécimes à venda em feiras livres, por exemplo. Depois de todos esses anos de trabalho de conscientização, as pessoas passaram a entender que isso não é normal e que a sociedade não deveria tolerar uma prática que trazia tantos prejuízos”, comenta o especialista.
“Infelizmente o Brasil sempre tolerou o tráfico de animais, porque existiam pouquíssimas informações sobre a prática. Hoje, as pessoas denunciam e repreendem os traficantes. Isso é um grande feito, talvez o maior sucesso da Renctas na história do País”, completa. Tiramos o véu que cobria essa ilegalidade. Lutamos para fazer com que o Brasil conhecesse a realidade do tráfico de animais silvestres e o trabalho ajudou no despertar de consciência da sociedade — Dener Giovanini, coordenador geral Renctas.
Foco do tráfico
Seja para pesquisas científicas ilegais, para colecionadores particulares ou para aquisição de animais de companhia, o tráfico atua com as mais diversas espécies brasileiras.
“A maior parte dos animais traficados no Brasil são as aves, seja pelo belo canto, como o trinca-ferro, bicudo e canário-da-terra, ou pela bela plumagem. No entanto, eu diria que todos os animais da nossa biodiversidade são vulneráveis ao tráfico”, explica o coordenador.
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