Escolas de Ilhabela desviam do aterro 145 toneladas de orgânicos em 1 ano
Programa de compostagem envolve mais de 6 mil alunos em atividade educativa de 39 escolas.
Desviar os orgânicos do aterramento numa cidade com coleta estruturada já é um ganho ambiental e econômico e tanto, uma vez que a parcela úmida dos resíduos é 51% do total do lixo domiciliar.
Fazer isso numa ilha é ainda mais significativo, dadas as dificuldades de logística. Em Ilhabela, que vive uma crise de saneamento sem precedentes, é uma notícia boa numa maré ruim . Associar esse ganho a um programa de educação ambiental, que envolve professores, funcionários e pais, potencializa os pontos positivos.
Uma experiência assim vem sendo conduzida desde o início do ano passado nas escolas municipais de Ilhabela. Em pouco mais de 11 meses, foram desviadas do aterramento cerca de 145 toneladas de resíduos compostáveis. O programa atinge também pequenas escolas de comunidades isoladas em que a coleta é feita em barcos e canoas.
Através da compostagem de sobras de alimentos dos refeitórios, podas de jardinagem, folhas secas, grama e serragem, as escolas envolvidas desenvolvem atividades interdisciplinares, em aulas de matemática, química, física, biologia, história, filosofia e artes.
A compostagem é o ponto de partida para discussões sobre a problemática dos resíduos na ilha, e reflexões sobre alternativas de desenvolvimento, agricultura urbana, agricultura orgânica, produção de plásticos, alimentação saudável.
O projeto foi uma iniciativa da Secretaria de Educação de Ilhabela, que contratou a Morada da Floresta, empresa especializada em soluções ambientais com foco especial em compostagem. A Morada executou o projeto e tem a parceria da Flow Desenvolvimento Sustentável e Consciente para acompanhar as visitas técnicas de implantação e supervisão nas escolas durante todo o projeto.
Numa primeira fase, que envolveu 14 escolas maiores, foram distribuídos cilindros para compostagem termofílica. Na segunda fase, mais 25 escolas que têm espaço e geração menores de resíduos orgânicos receberam composteiras com minhocas.
As escolas receberam balanças para medição da quantidade de resíduos destinados a compostagem, termômetros para monitoramento e ferramentas como pás e enxadas. Os dados foram usados em atividades de matemática e ciências.
“No início, houve uma fase de sensibilização de funcionários, professores e merendeiras para explicar o projeto e os ganhos que poderiam obter”, conta Victor Hugo Argentino de Morais Vieira, coordenador de projetos da Morada da Floresta. “Não queríamos que a compostagem fosse vista como uma nova lixeira, onde você joga os restos e esquece”, afirma.
“Além de um programa associado à temática de resíduos sólidos, em acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a compostagem foi utilizada como uma ferramenta de educação ambiental em várias disciplinas, em acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental”, diz Victor.
“É um processo educativo que envolve a todos. Cada escola tem uma dinâmica própria. Em algumas, o grupo que ficou responsável envolvia diretor e alguns alunos. Em outra escola, uma série”, conta. Eram os “guardiões da compostagem”. “Os professores foram fundamentais para o sucesso do projeto, trabalhando a temática da compostagem de diversas maneiras em sala”, acrescenta Victor.
A atividade despertou curiosidade dos pais. Foram organizadas oficinas para eles e para a vizinhança. A compostagem incentivou o cultivo de hortas, que algumas escolas já tinham. Nas menores, foram criadas hortas em caixotes.
No período de 11 meses, foram geradas 58 toneladas de composto – em geral, o composto representa 40% do total do resíduo orgânico colocado para compostar. O composto foi distribuído para pais e funcionários e enviado a escolas com hortas maiores.
Segundo cálculo da Morada, a prefeitura da Ilhabela economizou cerca de R$ 84.796,07 aos cofres públicos em 2018 . “Estimamos que, em 2019, a economia seja de R$ R$106.733,57 pois agora todas as escolas iniciaram a compostagem junto com o ano letivo”. A estimativa leva em conta o custo médio de R$ 584,31 por tonelada para coleta, transporte e aterramento em Ilhabela, de acordo com a base de 2016 (SNIS – 2018).
Segundo Claudio Spínola, criador da Morada, cerca de 7 mil pessoas foram diretamente atingidas pelo projeto, entre alunos (6.155) e funcionários (825). “Estimamos que as pessoas diretamente envolvidas devem ter compartilhado algo sobre compostagem com pelo menos 2 ou 3 pessoas, atingindo um público adicional indireto de 17.450 pessoas, o que seria quase 3/4 da população fixa de Ilhabela”, diz.
“É uma aposta razoável porque houve participação ativa dos pais no projeto, em mutirões de plantio e compostagem e durante eventos de meio ambiente promovidos pela prefeitura e secretarias”, acrescenta.