2018: o ano da energia solar nas propriedades familiares e cooperativas
Redução de preço das placas fotovoltaicas e dos gastos em luz elétrica faz sistema ganhar espaço em empreendimentos rurais.
A deficiência no fornecimento de energia no campo, levada pelas redes convencionais das concessionárias, faz crescer de forma acelerada a geração solar em propriedades e empreendimentos rurais no Estado. O movimento é beneficiado ainda pelo custo cada vez menor dos equipamentos utilizados na instalação dos painéis fotovoltaicos e na recuperação rápida do investimento em comparação com a vida útil dos sistemas, o que, no fim das contas, também colabora para a renda no meio rural.
Preocupada essencialmente com a necessidade da agricultura familiar, a Emater começou no ano passado um esforço para ajudar pequenos agricultores a contar com o benefício. Segundo os dados da empresa pública gaúcha, já são 1.452 projetos estudados. Destes, 709 foram considerados viáveis. Estão operando 306, e há 177 em implantação. Outros 483 considerados possíveis ainda não saíram do papel por razões como decisão pessoal do produtor ou espera por aprovação de financiamento, explica o diretor técnico da Emater, Lino Moura.
O chefe da divisão de planejamento e programas da Secretaria de Minas e Energia, Eduardo Zimmermann, lembra que, enquanto o consumo de energia rural no Estado foi multiplicado por cinco nos últimos 40 anos, a rede elétrica no campo pouco evoluiu.
— As tarifas de energia subiram muito acima da inflação, enquanto o custo das placas caiu sensivelmente — observa Zimmermann, lembrando ainda dos benefícios tributários que ajudaram a impulsionar a fonte alternativa.
Eletricidade garantida onde concessionárias não chegam
Aviários, granjas de suínos e propriedades voltadas à pecuária de leite e irrigação de hortigranjeiros são algumas das atividades que mais estimulam a adoção da geração solar.
O agrônomo Giancarlo Fernandes Rubin, responsável por acompanhar projetos de energia fotovoltaica apoiados pela Emater, ressalta que a geração solar acaba se tornando um ativo financeiro para os produtores. Além disso, garante eletricidade onde os fios das concessionárias não chegam e assegura fornecimento com menor risco de corte no serviço, um problema recorrente.
— São usinas que têm garantia de 25 anos, enquanto elas se pagam em um período em torno de seis anos — observa Rubin, lembrando que, como a energia representa custo alto, é mais dinheiro que sobra para as famílias após quitar o financiamento.
Um aviário de porte médio, ilustra Rubin, pode ter conta mensal de luz entre R$ 1,5 mil e R$ 2,5 mil, devido à necessidade de luz, ventilação e alimentação por meio de comedouros automáticos. Além de, ao longo do tempo, ser um gasto que desaparece, reduz o risco de queda no fornecimento pela rede convencional, o que pode levar a grande prejuízo às aves em dias de calor, por exemplo. Rubin ressalta que a Emater assessora na escolha das empresas com capacidade técnica e orienta a buscar financiamento. A tendência, entende o agrônomo, é a energia solar crescer, especialmente no campo.
— Ainda é uma tecnologia nova e existe receio do produtor. Mas, no momento em que ele vê o vizinho fazer, vira uma bola de neve — diz Rubin.
Governo lança atlas com potencial solar no Estado
O acompanhamento mais preciso da expansão da energia fotovoltaica ocorre por meio das estatísticas da chamada geração distribuída, disponibilizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A modalidade consiste no próprio consumidor originar energia e, em períodos de menor demanda, fornecer o excedente para a rede. Com isso, obtém créditos para abater da conta, quando usa a energia das concessionárias. Conforma a agência reguladora, o Rio Grande do Sul contava, até a sexta-feira, com 380 unidades do gênero na classe de consumidor rural. Apenas neste ano foram 258 novas instalações, contra 99 em todo o ano passado. Os dados da Emater, porém, incluem projetos no campo que não alimentam a rede em momentos de produção acima da demanda e também das classes industriais e comerciais. Por isso, são números maiores.
O potencial da energia fotovoltaica fez o governo gaúcho elaborar o Atlas Solar do Rio Grande do Sul. O estudo será lançado na próxima terça-feira (11).
Desembolso menor a cada ano
O custo de instalação dos sistemas caiu cerca de um terço no intervalo de dois anos. O levantamento é do gerente de planejamento energético da Secretaria Estadual de Minas e Energia, Eberson Silveira. Os dados referem-se a unidades residenciais que, no Estado, têm em média potência instalada de 5,2 quilowatts-pico (kWp), medida utilizada para células fotovoltaicas.
Em junho de 2016, o desembolso necessário para ter em casa uma unidade com este valor de referência era de R$ 44,4 mil. Em junho deste ano, caiu para R$ 29 mil.
Outro impulso veio da isenção de ICMS sobre a energia produzida na modalidade de geração distribuída. No Rio Grande do Sul, vale desde 2016.
Um projeto, 350 beneficiados
Formada majoritariamente por pequenos produtores, a Cooperativa Agroindustrial São Jacó (Cooperagri), de Teutônia, no Vale do Taquari, apostou na geração fotovoltaica para reduzir custos e beneficiar seus 350 associados. Em junho, colocou em operação uma usina solar com capacidade de 130 quilowatts, o suficiente para atendar metade da demanda de energia. O sistema com 408 placas custou cerca de R$ 500 mil, mas o empreendimento contou com o apoio do Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper), que repassou R$ 400 mil com subvenção. Com a economia na fatura da concessionária, os R$ 100 mil restantes serão pagos com folga nos próximos anos.
Além do recebimento de grãos, a cooperativa também conta com fábrica de rações para aves, suínos e gado leiteiro. Com a conta mais barata, o benefício para os associados é direto. O empreendimento é acompanhado pela Emater, que ajudou para conseguir o benefício dos recursos do Feaper.
— Baixando nossa conta de luz, temos uma redução de custos que é transferida aos nossos produtores — diz o presidente da cooperativa, Aloisio Mallmann.
O assessor financeiro e administrativo da Cooperagri, Lício João Sulzbach, lembra que a energia costumava ser o terceiro maior gasto da cooperativa, atrás apenas dos grãos utilizados para fabricar as rações e do frete. E cerca de 7,5% do custo total da cooperativa ao longo do ano.
Agora, a cada 12 meses, são cerca de R$ 100 mil economizados na conta de luz. A obrigação da cooperativa, entretanto, é pagar os R$ 100 mil nos próximos cinco anos. Com a folga financeira, a rentabilidade da cooperativa, da ordem de 3% ao ano, vai passar para 4%. Desta forma, estuda benefícios como, por exemplo, aumentar o desconto dado aos associados na compra de mercadorias (hoje de 1%) e elevar o prêmio por saca de milho, hoje de R$ 1 em relação ao mercado.
O empreendimento se enquadra na modalidade de geração distribuída. Quando produz mais do que consome, o excesso vai para a rede da concessionária. Quando está demandando mais do que produz, pode abater este crédito. Em outubro, por exemplo, gerou 50% a mais do que a necessidade.
Era fatura, será faturamento
Foram dois anos de curiosidade e busca por informação, lendo sobre a geração de energia solar e conhecendo projetos instalados em casas de comércio até que Luciano Luis Werle, proprietário do Viveiro Agroverde, em Passo do Sobrado, no Vale do Rio Pardo, se animou a implantar um sistema de 38 quilowatts (kW) na propriedade. No final de maio, ao custo de R$ 130 mil, as 117 placas divididas em dois pavilhões estavam prontas para produzir, ao longo do ano, energia suficiente para atender 100% da demanda de seu negócio, que coloca no mercado cerca de 4 milhões mudas de flores e hortaliças por mês.
Com o que vai economizar com a conta de luz, aproximadamente R$ 25 mil por ano, a Solled Energia, empresa que instalou os sistemas, estima que, em apenas cinco anos e meio, um pouco mais da metade do período do financiamento que tomou, de 10 anos, o investimento se pagará.
— Em dias ensolaradas, a produção é muito além da nossa necessidade, para que no inverno eu tenha esse crédito — diz Werle, lembrando que, no período do ano com menos incidência de sol, pode usufruir o excedente que gerou nos meses com maior luminosidade.
Werle prefere esperar ao menos um ano para ter uma noção melhor do tamanho do benefício financeiro, mas diz não ter dúvida da viabilidade do investimento. Se as projeções se confirmarem, a economia a cada 12 meses será maior do que terá de pagar por ano de financiamento. Tem também a garantia de 25 anos. Quando esse período chegar ao final, o sistema ainda deve estar gerando ao menos 80% da capacidade inicial. Werle lembra que o custo de produção é alto e é difícil de repassar aos clientes. Com o sistema solar, corta gastos e pode sobrar dinheiro.
— Teria que vender muito mais para ter um faturamento adicional de R$ 25 mil — compara o empresário rural, referindo-se ao dinheiro que vai ficar “limpo” para ele após quitar o financiamento.
Mesmo que o objetivo da iniciativa não seja fazer marketing, Werle acredita que pode ajudar na promoção do viveiro, pelo apelo sustentável. O empresário também conta que, no futuro, pretende ainda adquirir caminhões elétricos para testar no negócio.