Equipamento israelense transforma resto de comida e fezes em gás de cozinha
A empresa israelense HomeBiogas trouxe este ano para o Brasil um equipamento que transforma resíduos orgânicos domésticos, como restos de alimentos, esterco animal e até fezes humanas, em gás metano, que pode ser usado no fogão da cozinha ou para aquecer a água do banho. Custa R$ 5.900.
Segundo a empresa, já foram vendidas 30 unidades no país. Até 2023, a empresa tem a meta de vender 15 mil unidades. A empresa não tem loja física, e vende pelo site e por meio de representantes comerciais. O equipamento é desenvolvido e fabricado em Israel.
Fundada em 2012, a HomeBiogas tem três sócios israelenses: Yair Teller, Oshik Efrati e Erez Lanzer. A empresa não revela investimento inicial, faturamento nem lucro do ano passado. O investimento no Brasil também não foi informado.
“O sistema elimina uma tonelada de resíduos orgânicos por ano e deixa de emitir seis toneladas de gás do efeito estufa na atmosfera. Se esse lixo tivesse ido para o aterro, ele ficaria em decomposição, gerando gás metano, que vai para a atmosfera, e chorume, que contamina o lençol freático. A gente quebra todo esse ciclo no quintal de casa. O lixo é matéria-prima, não é lixo”, declarou Leandro Toledano, 42, representante da HomeBiogas no Brasil.
Equipamento pode ser instalado na cozinha ou no banheiro
Na cozinha, o equipamento é instalado do lado de fora de casa e, com uma mangueira, o gás é levado até o fogão. Gera até três horas de gás por dia, segundo a empresa.
No banheiro, o equipamento pode ser acoplado a um vaso sanitário náutico (também vendido pela empresa), pelo lado de fora. “Quando a descarga é acionada, fezes, urina e papel higiênico vão para dentro do sistema, que transforma os resíduos em gás”, afirmou Toledano.
O gás gerado por ser usado para aquecer a água, proporcionando até 25 minutos de banho quente por dia, ou pode ser canalizado para uso no fogão. “No banheiro, o sistema funciona como uma solução de saneamento básico”, disse.
Segundo a empresa, o vaso sanitário náutico consome 1,2 litro de água por descarga (num vaso sanitário tradicional, seriam 9 litros de água por descarga).
Como é a questão do cheiro e da segurança
O equipamento não precisa de eletricidade e é, segundo a empresa, de fácil instalação.
Também não causa mau cheiro, segundo a empresa. Apenas quando é aberta a tampa para colocar os resíduos no sistema pode ser sentido um cheiro ruim, mas semelhante a quando se abre a tampa de uma lata de lixo, segundo Toledano. “O gás metano gerado desses resíduos orgânicos é limpo e não tem cheiro, pois passa por um filtro de carvão ativado que remove qualquer odor desagradável.”
O HomeBiogas tem capacidade para armazenar 700 litros de gás, o equivalente a três horas diárias de uso. “Quando o tanque está completamente cheio, a válvula de segurança do equipamento libera automaticamente o gás excedente, que se dissipa na atmosfera. Como o gás metano é armazenado no sistema de baixa pressão, não há risco de explosão, desde que seguidas todas as normas de segurança, como instalar o equipamento em local aberto e longe de fagulhas e chamas”, disse Toledano.
Equipamento é alimentado por resíduos orgânicos
Toledano disse que o equipamento é um biodigestor e funciona por meio de um processo anaeróbico (sem oxigênio), com bactérias internas que vão consumir o resíduo orgânico e gerar o gás metano, que é filtrado e armazenado.
“Para ativar o sistema pela primeira vez é preciso adicionar mil litros de água e 120 litros de esterco animal, como fezes de qualquer comedor de capim (vaca, boi, cavalo e burro). Isso equivale a cinco baldes de esterco”, afirmou.
Segundo ele, após um período de duas a quatro semanas, forma-se dentro do sistema uma colônia de bactérias, que agirá nos resíduos orgânicos para gerar gás.
Para ter gás de cozinha, é preciso adicionar diariamente restos de comida (com exceção de cascas de frutas cítricas, que contêm óleos bactericidas e, em excesso, podem reduzir a eficácia da digestão das bactérias). O indicado, segundo a empresa, é adicionar o limite máximo diário de 12 litros de resíduos orgânicos ou 40 litros de esterco (equivalente a dois baldes). Isso gera até três horas de gás de cozinha por dia.
O sistema gera também um fertilizante natural, que pode ser utilizado para adubar plantações. O fertilizante fica acondicionado num recipiente atrás do equipamento.
O equipamento deve passar por uma limpeza interna a cada oito anos e, anualmente, o filtro deve ser trocado.
Clientes vão de escola a fazenda
Segundo Toledano, o equipamento é indicado para casas (para uma família de até oito pessoas), empresas, escolas, fazendas e hotéis, por exemplo. Não é indicado para apartamentos. Em condomínios, é possível colocar vários sistemas em linha.
Entre os clientes da empresa está um hotel sustentável em Mairiporã (SP), que abriga uma ONG que trata de 250 cachorros. No local, estão instalados 12 equipamentos em linha.
Outros clientes são uma escola particular em São Paulo, que já tem instalado dois equipamentos para aquecer a água local, e uma fazenda em Alagoas, que usa o gás na sede e o fertilizante, para irrigar a plantação de palma que alimenta o gado.
Empresa tem público, mas preço é empecilho
Para a consultora do Sebrae-SP Maria Augusta Pimentel Miglino, o sistema do biodigestor tem tecnologia “simples e inteligente” de gerar energia. “Do ponto de vista ambiental, essa é uma forma responsável, correta e interessante de dar destinação aos resíduos orgânicos”, declarou.
Segundo ela, apesar de ser um método pouco difundido comercialmente no Brasil, a HomeBiogas tem um público certo, que são as pessoas e empresas engajadas e interessadas em sustentabilidade.
“Tem crescido, mesmo timidamente, o número de pessoas e empresas que se preocupam com o ambiente, a qualidade dos alimentos, a destinação correta dos resíduos sólidos e orgânicos. Esse é o público-alvo da empresa, mesmo que ainda sem muita escala”, afirmou a consultora. Para ela, a HomeBiogas deve focar em propriedades e comunidades rurais, empresas e empreendimentos “que tenham essa preocupação”.
Maria Augusta disse, no entanto, que o preço e o tamanho do equipamento são um desafio para difusão do sistema no país. “O equipamento ainda é pouco acessível para o consumidor individual, por ser um produto relativamente caro, e, por ocupar muito espaço, não é adequado para pequenos ambientes”, disse.