Sustentabilidade no Vinho
Sustentabilidade. Esta é a palavra de ordem. É o que relamente pode fazer a diferença para o planeta.
Mas o que é sustentabilidade no vinho? Tem algo a ver vinhos orgânicos, biodinâmicos ou naturais? Tem a ver com economia e comundade? Tudo isso e mais um pouco.
Para entender melhor o assunto e o que está sendo feito a respeito no mundo do vinho, fui conversar com representantes de quatro empresas, referências em sustentabilidade, de quatro países: Elena Carretero, Gerente de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade da Viña Santa Rita (Chile), Sergio Zingarelli, proprietário da Rocca delle Macìe (Itália), Christian Wylie, Gerente Geral da Bodega Garzon (Uruguai) e Valter José Pötter proprietário da Estância Guatambu (Brasil). Em Portugal, conversei ainda com Frederico Falcão, presidente do Instituto da Vinha e do Vinho – IVV.
CONCEITO
O que Sustentabilidade no vinho? Sustentabilidade não cobre apenas o aspecto ambiental, mas também o econômico e o social, atuando em todas as fazes do processo, desde a produção de um vinho (na viticultura, enologia) até seu engarrafamento, comercialização, marketing, recursos humanos etc, e toda a relação da empresa com a economia e a sociedade.
É bom enfatizar que orgânicos/biodinâmicos/naturais (OBN) nem sempre são sustentáveis. Embora os OBN sejam claramente uma tendência e altamente positivos, este métodos devem permanecer sempe em produtoes pequenos e de alta qualidade/valor agregado. Com a tecnologia existente hoje, não vejo no horizonte a possibilidade de que um percentual substacial da produção de vinhos do planeta se converta a OBN. Ou seja, o impacto ambiental positivo desta forma de produção não é relevante.
OBN estão atualmente no cetro das atenções, mas muito mais relevante e importante para o planeta – para produtores, consumidores, para nossa saúde e para a natureza – é a produção sustentável.
A SUSTENTABILIDADE – que é mais economicamente viável, trará um impacto positivo REAL, pois é viável de ser adotada em massa, por empresas grandes e pequenas.
PRÁTICAS e EXEMPLOS
O conceito de sustentabilidade é muito amplo e abrange inúmeras fases em todo o processo de um vinho, do vinhedo ao consumidor.
NOS VINHEDOS
Sustentabilidade nos vinhedos não engloba apenas o aspecto de manter a qualidade do solo e um controle de pragas amigável ao meio ambiente (não uso de agrotóxicos – que é a bandeira dos orgânicos). Engloba também o uso eficiente de energia e redução da emissão de gazes, além do controle biológico de as pragas (em caso de pestes introdução de seus inimigos naturais, sejam seus predadores ou doenças que os atacam) e redução do uso de água e sua reutilização.
Sergio Zingarelli, da Rocca delle Macìe, contou que usa uma técnica muito empregada hoje, e que ilustra bem a a aborodagem sustentável ao controle de pragas. Trata-se a “Confusão Sexual”, que consiste em borrifar feromonios nos vinhedos de modo a confundir os insetos (pragas) machos, que assim não conseguem achar suas fêmeas e se reproduzir.
NA VINÍCOLA
Uma vinícola consome muita água e energia elétrica, além de insumos usados diretamente nos vinhos (foco dos vinhos naturais), como conservantes, leveduras etc. A utilização de energias renováveis, redução, reciclagem e reutilização dos resíduossão práticas fundamentais para a sustentabilidade.
No Brasil a vinícola pioneira em energia limpa é a Estância Guatambu. “Somos uma empresa nova, e já construída com os preceitos da sustentabilidade, desde os vinhedos até sua arquitetura, decoração e a parte industrial”, afirma Valter José Pötter, o proprietário. A Guatambu desde 2016 tem 100% de sua energia de origem solar. A empresa, depois de muita pesquisa e dois anos de testes, implantou 600 placas solares para gerar 185 mil Kilowatts/ano. O projeto, que consumiu cerca de 3 anos e investimento de R$ 1,5 milhão, hoje gera receita, já que há um excedente de 20% na produção de energia. A Guatambu não para por aí, a refrigeração (item importante e custoso em uma vinícola), foi resolvida também de forma sutentável. “Tentamos energia eólica. Estudamos com a PUC-RS a possibilidade de instalar aerogeradores (moinhos de vento), mas concluímos que o vento aqui não era suficiente e a solução acabou sendo simples”, conta Pötter. “Construímos a vinícola em “L” de forma a receber o vento sul, que é frio, aliado ao telhado de EcoTelha, conseguimos um isolamento térmico natural”. Além disso a Guatambú tem água e resíduos tratados e reciclados, e iluminação natural em boa parte do prédio.
NO MARKETING, NO TRANSPORTE E NA EMBALAGEM
O markting e principalmente o transporte, os elos esquecidos da cadeia do vinho quando se fala ambiente, são talvez sejam os maiores agressores. A emissão de carbono, que não é foco dos produtores OBN, é de fato um vilão neste enredo, já que aviões, caminhões e navios são grandes emissores de CO2.
Para o transporte do vinho, das vias mais comuns a mais amiga é a marítima, 5 vezes menos agressora que a terrestre e 11 vezes melhor que a aérea. É menos anti-ecológico comprar no Brasil um vinho que veio de navio da Austrália (15 mil km) do que um que veio de avião da vizinha Argentina (3 mil km).
A mesma fórmula se aplica ao marketing, embora em bem menor escala. As viagens aéreas para promoção, divulgação, eventos etc, precisam ser racionais.
Outro agressor importante está na embalagem do vinho, na qual o vidro tem a parte do leão. Do carbono emitido para fabricação de uma garrafa de vinho 85% vem do vidro, 9% da caixa de papelão da caixa, 4% da rolha de cortiça 1% do papel do rótulo e 1% do plástico da cápsula. Uma clara tendência no mundo são garrafas cada vez mais leves, embora no Brasil as pesadas ainda chamem positivamente à atenção do consumidor. Obs: uma garrafa tradicional pesa cerca de 500gr, as mais pesadas podem beirar 1kg e as inovadoras e amigas do ambiente podem descer até perto de 300gr de vidro.
NOS RECURSOS HUMANOS
Faz parte do chapéu da sustentabilidade a implantação de programas de segurança, saúde, bem estar, educação e capacitação; fomentar cultura organizacional inclusiva, aberta ao diálogo, com padrões de conduta ética e que comprometa os colaboradores com a filosofia e o sucesso da empresa, além de fortalecer a familia e seus vínculos com a empresa.
NA COMUNIDADE
Programas colaborativos empresa-comunidade; desenvolvimento do negócio junto com a comunidade, que também prospera; identificar sinergias entre a cedeia de valores da empresa e as necessiades da comunidade – são todas prática sustentáveis.
A chilena Viña Santa Rita, que está na vanguarda da sustentabilidade, vai além de inúmeras ações ambientais e industriais, chegando até as crianças da comunidade aonda estão inseridos. “Desenvolvemos projetos culturais com a comunidade, com crianças de escolas na área, ensinando biodiversidade da área onde vivem”, conta Elena Carretero.
NO ENTORNO
Não basta preservar o solo dos vinhedos, mas também se preocupar com o em torno, com a conservação da biodiversidade e a preservação dos recursos naturais.
As vezes alguns benefícios da sustentabilidade vem de onde menos se espera. A Guatambu reutiliza resíduos do vinho (cascas e sementes de uva) na alimentação de gado (principal negócio da família). Com 20% de uva na dieta, os animais emitem 25% menos metano na natureza, que é tido como uma das principais gases de “efeito estufa”.
CERTIDICAÇÕES
A sustentabilidade vai muito além da proposta dos orgânicos/biodinâmicos/naturais, com uma visão e impacto bem mais amplo, o que torna também mais difícil definir e certificar este trabalho. A sustentabilidade, certificada, com bases cientificas pode assumir diversos nomes como IPM = Integrated pest Manegement ou Lutte Raisonée (luta racional) ou Viticulture raisonée. Existe um grande número de programas de certificação para a sustentabilidade, alguns deles são: ISO 14001/14004, Certified Sustainable Wine of Chile, Sustainable Winegrowing New Zealand (SWNZ), Integrity & Sustainability Certified (África do Sul), Sustainable Australia Winegrowing (SAW), Bodegas de Argentina Sustainability Protocol, Certified California Sustainable Vineyard and Winery (CCSW), Sustainability in Practice (SIP – Califórnia), Certified Green (Califórnia), Low Input Viticulture and Enology (LIVE – Oregon, Washington e Idaho).
Talvez a certificação mais importnte de sustentabilidade seja a Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), ligada mais a arquitetura que ao vinho. A Bodega Garzon no Uruguai é uma LEED. “Somos a primeira bodega fora dos EUA certificada com LEED”, orgulha-se Christian Wylie, CEO da empresa. “Nosso edifício de 20 mil m2 sobre a rocha de granito, se fosse vertical equivaleria a um prédio de 60 andares. Com LEED temos que ter um percentual majoritário de materiais locais e de teto verde – temos 7 mil m2 de teto verde, com plantas locais amenizam a paisagem e esfriam o edifício, diminuindo a necessidade de refrigeração. Ha também um máximo uso da luz natutal em todos os ambientes, a bodega é por gravodade e a energia será toda eólica”, complementa Wylie, que conclui: “a obra custou o dobro do que custaria se não fosse sustetável, ao invés de US$ 40 milhões, gastamos 80, mas foi um investimento a longo prazo. O edifício usa a metade da energia de um edifício nornal e em 50 anos estará pago”.
A Garzon também sustentável em todos os demais aspectos do projeto. Os vinhedo, por exemplo, foi implantados sem mudar em nada a topografia do lugar. É curioso olhar a foto, pois parece um mosaico.
Infelizmente no Brasil ainda não temos nenhuma certidicação específica neste sentido. Em outros países, como Portugal, também não há protocolos de sustentabilidade, embora hajam muitas regras ambientais na produção de vinhos.
“Não temos nenhum protocolo ou orientação espeficica sobre sustentabilidade, mas temos muita regulamentação ambiental (do Ministério do Ambiente), no que diz respeito por exemplo ao tratamento das aguas e resíduos, como borras a bagaços. Há muitas regras a cumprir e regras para se obter uma licença para produzir vinho”, atesta Frederico Falcão, presidente do Instituto da Vinha e do Vinho – IVV (Portugal). “Nosso trabalhpo é valorizar a marca Portugal, para que a atividade viticinicola seja mais sustentável”
Veja Riohttps://vejario.abril.com.br/blog/vinoteca/sustentabilidade-no-vinho/