Renováveis já criaram quase 10 milhões de empregos

o mesmo dia em que Donald Trump anunciava ao mundo a intenção de retirar os EUA do acordo de Paris, para o combate às alterações climáticas, o senado da Califórnia aprovava legislação (25 votos contra 13) que fixa uma meta histórica: ser totalmente servido de energia renovável até 2045. É apenas um sinal, segundo alguns políticos locais, de como dificilmente a decisão de Trump irá alterar minimamente os objetivos do combate às alterações climáticas.

A nova meta para as energias renováveis, definida por aquele Estado com mais de 39 milhões de habitantes, irá resultar na criação de largas dezenas de milhares de postos de trabalho associados ao sector — a juntar aos 777 mil atuais no conjunto dos EUA.

Um número “inesperado e que impressiona”, de acordo com um académico americano especialista em renováveis, citado pela agência Bloomberg, mas que fica ainda muito aquém dos 3,6 milhões de empregos que o sector das energias limpas já gerou naquele que é atualmente o maior poluidor do planeta: a China.

No total, em 2016 o mundo tinha 9,8 milhões de empregos ligados ao sector das energias renováveis (8,3 milhões excluindo as grandes barragens), segundo dados revelados um dia antes da polémica decisão de Trump, pela International Renewable Energy Agency (IRENA). Trata-se de um crescimento de 1,1% face a 2015 ou de 2,8% se excluirmos as grandes barragens.

Portugal, que é frequentemente apontado como um exemplo mundial no aproveitamento das energias limpas, com destaque para o solar e para as eólicas, gerou até hoje cerca de 50 mil empregos neste domínio.

Os dados são da Associação de Energias Renováveis (APREN) e baseiam-se numa extrapolação feita pela Deloitte, a partir dos números apurados em 2013 (40.727). “São números realistas e poderão pecar até por defeito”, nota António Sá da Costa, presidente daquela associação.

Segundo o mesmo estudo, até 2030 Portugal poderá criar mais de 88 mil empregos nas renováveis, de forma direta e indireta, num cenário em que as exportações de tecnologia fabricada em Portugal ganham especial destaque, além do mercado nacional.

Os grandes impulsionadores do emprego nas renováveis à escala mundial, segundo os dados mais recentes da IRENA, são a China, o Brasil, os EUA, a Índia, o Japão e a Alemanha. O continente asiático, um dos mais poluentes do planeta, congrega já 62% do total dos empregos gerados neste domínio.

Na análise por tecnologias, o solar fotovoltaico domina, com mais de três milhões de empregos — um acréscimo de 15% face a 2015. Esta é, aliás, uma das tecnologias em expansão a nível mundial visto que, nos últimos dez anos, o seu custo reduziu-se quase em 80%, sendo agora uma das mais competitivas em termos de preço. Em Portugal, aliás, acaba de ser anunciada a construção da primeira central fotovoltaica que irá entrar no sistema eletroprodutor a preços de mercado, sem qualquer espécie de subsidiação.

Tanto o solar fotovoltaico como a eólica ou mesmo a grande hídrica são, segundo vários analistas, tecnologias que geram emprego na fase de construção e instalação. Uma barragem, no pico da sua construção, pode necessitar de cinco ou seis mil trabalhadores, de forma direta e indireta. Após a instalação das centrais hídricas, eólicas ou fotovoltaicas no terreno, as necessidades de mão de obra são quase insignificantes. Duas ou três dezenas de pessoas podem ser suficientes para operar uma barragem.

Há, porém, uma área de emprego emergente que tem a ver essencialmente com trabalhos de manutenção e reabilitação de equipamentos. Trata-se de trabalho qualificado e, regra geral, “muito bem remunerado”, de acordo com um consultor na área da energia.

Os números da IRENA revelam ainda que a instalação de novos parques eólicos nos EUA, Alemanha, Índia e Brasil contribuíram para um aumento de 7% no emprego global na ‘indústria do vento’, que atingiu quase 1,2 milhões de empregos em 2016.

Sapo.pt