Resíduos geram 5,4 mil milhões de euros e empregam 64 mil pessoas em Portugal
A atividade do setor dos resíduos gera anualmente em Portugal, de forma direta, indireta e induzida, um valor de produção total de cerca de 5,4 mil milhões de euros e um nível de emprego de 64 mil pessoas.
Este foi um dos dados apontados pelo “Estudo sobre a Relevância e o Impacto do Setor dos Resíduos em Portugal na Perspetiva de uma Economia Circular”, promovido pela Associação Smart Waste Portugal e realizado pela sociedade de consultores Augusto Mateus & Associados.
“Este estudo pretende contribuir para um conhecimento aprofundado e atualizado do setor dos resíduos no nosso país, a sua relevância no contexto da economia nacional e os seus desafios competitivos e de respeito ambiental de médio e longo prazo. Foi comissionado pela Associação Smart Waste Portugal de forma a servir de ferramenta para uma concertação estratégica entre os atores relevantes que lhe estão associados e para o desenho de políticas públicas mais ajustadas ao futuro”, sublinhou o presidente da Direção do Smart Waste Portugal, Aires Pereira.
Segundo dados reunidos neste relatório, relativos a 2014, a economia nacional gerou cerca de 14,6 milhões de toneladas de resíduos, dos quais 4,7 milhões correspondem a resíduos urbanos e 9,9 milhões a resíduos setoriais. Deste total, foram valorizados cerca de 74,4%, equivalentes a 10,8 milhões de toneladas. A maior parte dos resíduos em Portugal tem como destino a valorização material (66%) ou a valorização energética (9%), mas 22% do total ainda tem como destino o aterro.
Dos resíduos não valorizados, 2,3 milhões de toneladas correspondem a resíduos urbanos e 1,4 milhões são resíduos setoriais, o que constitui um enorme desperdício e oportunidades não aproveitadas. De facto, estimativas apontam para que, mantendo as atuais taxas de reciclagem, o valor perdido na economia global se aproxime dos 1.000 biliões de dólares (30% para os resíduos municipais e 70% para os setoriais).
Madeira e cortiça: setor que mais contribui para a circularidade
Segundo as estatísticas oficiais disponíveis, Portugal gera anualmente cerca de 4 Kg de resíduos setoriais por trabalhador, um número cinco vezes menor do que a média europeia. Cerca de 85% deste total produzido atualmente em Portugal (8,4 milhões de toneladas) é sujeito a operações de valorização, em contraste com o valor de 60% da produção valorizada em 2008. Aqui, os setores que mais resíduos valorizam face ao que produzem, contribuindo desta forma para uma maior circularidade económica, são os da Madeira e Cortiça (93,8%), das Máquinas, equipamentos e material de transporte (93,4%) e dos Minerais não metálicos (91,3%). No fundo do ranking encontram-se os setores da Eletricidade, Gás e Água Quente (18,4%) e o setor das Petrolíferas (40,3%).
Por outro lado, considerando vários indicadores que procuram aferir o potencial de crescimento económico e o contributo potencial para a circularidade, o Estudo sobre a Relevância e o Impacto do Setor dos Resíduos em Portugal na Perspetiva de uma Economia Circular aponta como alvos prioritários de atuação para a promoção da circularidade os setores da Fabricação de máquinas, equipamentos e material de transporte, da Construção, das Metalúrgicas de base e produtos metálicos e do Comércio e serviços, seguindo-se outros como o setor das Indústrias extrativas, o das Indústrias alimentares, bebidas e tabaco, o dos Minerais não metálicos, o das Indústrias da moda (têxtil, vestuário e calçado) e o das Indústrias químicas, farmacêuticas, da borracha e dos plásticos.
Já nos resíduos urbanos, a média portuguesa também se encontra abaixo da europeia, verificando-se que cada português gera cerca 440 Kg de resíduos por ano contra 449 Kg do europeu médio. Em termos absolutos, são economias mais desenvolvidas como a Alemanha, Áustria e França que evidenciam valores mais elevados pelos padrões mais intensos de consumo de bens. Destes resíduos, 51% do total é sujeito a valorização, uma subida considerável quando comparado com os 34,8% de 2004. Contudo, a recolha seletiva corresponde a apenas 14% do total de resíduos urbanos produzidos.
2.705 entidades de resíduos faturam de forma direta 2,5 mil milhões de euros anualmente
O Estudo sobre a Relevância e o Impacto do Setor dos Resíduos em Portugal na Perspetiva de uma Economia Circular da autoria da sociedade de consultores Augusto Mateus & Associados faz ainda um retrato do setor dos resíduos em Portugal, apurando que o mesmo é formado por cerca de 2.705 entidades, que empregam cerca de 23 mil trabalhadores, tendo gerado em 2014 uma faturação direta de 2,5 mil milhões de euros e exportado 359 milhões de euros. Se a estes valores se acrescentar efeitos indiretos e induzidos da sua atividade, estima-se que o setor dos resíduos tenha contribuído, em 2014, para uma produção adicional na economia portuguesa de cerca de 2,9 mil milhões de euros e de 41 mil postos de trabalho.
Investimento em I&D é metade da média nacional
Em anos recentes, as despesas de I&D realizadas por empresas do setor dos resíduos variou entre 1,8 e 3,4 milhões de euros. Em termos geográficos, são as empresas com sede na região de Lisboa que executam a maior parcela de despesas em I&D do setor (43%), seguidas das sedeadas na região Centro (21%) e no Norte (14,5%). Nota-se, ainda, uma baixa preocupação do setor com os investimentos em I&D, fixando-se os mesmos em cerca de 0,7% do valor acrescentado bruto (menos de metade da média nacional). Mesmo assim, Portugal é o sétimo país com maior intensidade das despesas empresariais em I&D gerado pelas empresas com atividade no setor dos resíduos.
Augusto Mateus, fundador e presidente da Mateus & Associados, conclui que “uma atitude mais proativa em torno da problemática da circularidade por parte de todos os agentes do setor dos resíduos poderá desempenhar um papel nuclear no processo de transição da economia portuguesa, induzindo resultados muito mais efetivos do que os que seriam alcançados através de uma atuação meramente reativa e à medida das exigências regulamentares impostas por Bruxelas. Importa, por isso, reunir o maior número de atores relevantes para dar o impulso necessário às práticas circulares em Portugal, sendo que a existência de concertação entre eles, em torno de uma visão e estratégia de médio e longo prazo, se revela absolutamente indispensável.”