Jovem ganha bolsa na NASA por inventar solução hídrica para o campo
A crise hídrica que vive São Paulo, e que também açoita regiões de uma ponta a outra do globo, serviu de inspiração para Mariana Vasconcelos, estudante de 23 anos, que acabou de ganhar um concurso de inovação por ter inventado um sistema que ajudará os agricultores a reduzirem drasticamente seu consumo de água.
A proposta promete reduzir o gasto de água de 30% a 60% em uma atividade que representa 72% do consumo hídrico no Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Água.
O projeto de Vasconcelos consiste em modernizar os cultivos ao instalar nas plantações sensores que mandem informação através da internet sobre a quantidade necessária de água e o momento certo para regar. “Com os dados fornecidos pelos sensores, nós geramos recomendações e dizemos ao agricultor quanto e quando tem que regar, a umidade do ambiente, as probabilidades de pragas do cultivo, o gasto de água e energia da plantação…”, explica Vasconcelos. “As medições desses elementos já existiam, mas nunca ninguém pensou em medir tudo junto e interpretar todos esses fatores como um todo, personalizado para cada tipo de plantação”, acrescenta.
O prêmio, promovido pela faculdade de tecnologia Fiap, levará a estudante até o Vale do Silício, na Califórnia, para estudar na Singularity University, uma universidade sediada em um centro de investigação da NASA e patrocinada por Google e Nokia, entre outras. O concurso, porém, é apenas um trecho do caminho que Vasconcelos pretende percorrer com sua invenção, pois o objetivo é comercializá-la, no setor público e privado. “O plano é instalar o projeto em dez fazendas até junho e em 35 até dezembro, o crescimento deve ser rápido e exponencial”, afirma a estudante que lidera sua terceira start-up, AgroSmart, junto com três colegas.
A vencedora, que cresceu em uma fazenda, concorreu contra 562 propostas finalistas que visam também a economia de água. Ela achou geniais algumas das ideias como a que propunha reduzir o gasto de água na construção civil com uma nova fórmula para elaborar argamassa. Outro projeto apostava na substituição da descarga no vaso sanitário por uma solução biodegradável, mais barata que a água, que neutralizaria as características físico-químicas da urina e reduziria em 80% a água usada nos vasos sanitários. “Havia muita concorrência”, se orgulha a ganhadora.
Vasconcelos, que teve que suspender os dois primeiros testes da nova tecnologia por falta de água no sul de Minas, diz ter atacado com seu sistema o maior problema. “Temos que fazer um uso consciente nas nossas casas, mas nós temos que ir onde a falta de água tem mais impacto, que é agricultura. Mas isto não basta para resolver esta crise, precisamos entendê-la melhor”, diz a jovem. É precisamente essa falta de entendimento o que, segundo ela, tem marcado a gestão da crise hídrica em São Paulo. “Acho que falta planejamento dos recursos hídricos, mas não por má fé, se não porque falta conhecimento. Faltam dados para fazer melhores análise e conseguir um planejamento mais embasado. Há um déficit tecnológico, o Brasil esta na fila da inovação tecnológica neste sentido, sempre copiamos”, lamenta Vasconcelos.
Lançada a comercialização do projeto ganhador a través da start-up, o quarteto de jovens empreendedores mira um plano mais ambicioso, também ligado a gestão de recursos hídricos. “Nosso objetivo é fazer um mapeamento das pequenas e médias bacias e entender para onde é que está voltando essa água [usada para regar]. Com isso, conseguimos prever quanto de água vamos ter no futuro nessa bacia para poder distribuir para os principais setores que precisam dela”. Para isso precisarão de mais financiamento e de algo mais que um prêmio acadêmico, outro tratamento como jovens empreendedores, lamenta a jovem: “Há tanto conhecimento parado, por conta da falta de incentivos e burocracia.”